Estranhamento familiar - Levi d'Freitas
Com um profundo suspiro, acorda atordoado. Revira os bolsos como que à procura de algo que não sabe o que é. Lava o rosto. Senta-se à cadeira ao lado da cama. Ergue os olhos e percebe aquele que será o pivô de seu tormento por alguns instantes.
- Mas, que diabos é isto?
À sua frente, imperiosa, uma caixa escura. Formato quadrilátero, alguns botões.
-O que esta coisa está fazendo aqui?
Segue em direção à peça. Curioso, toca-lhe os botões, o que resulta no acionamento dos mecanismos do estranho instrumento. Neste momento, luzes acendem, iluminando o escuro recinto. Assusta-se ao ver e ouvir rostos e vozes desconhecidos.
-Com quem estão falando? Comigo!? Saiam daí para conversarmos!
Em vão tocou aquela mística tela, quando buscava sentir a rosada face da bela moça que falava de dentro da agora colorida caixa imponente, que mais parecia um ídolo religioso, dado seu posicionamento estrategicamente ao centro do quarto.
-Ora, parem de falar e me ouçam!
Irritado, apertava os botões e espantava-se cada vez mais com a velocidade com que pessoas iam e vinham. E assim, ouviu (e viu) um saliente homem dizer:
“-Bem vindos ao mundo da televisão!”
Ao que pensou:
-Ora, de que me serve estar em um mundo que vejo, ouço, mas no qual não tenho vez nem voz, com o qual não interajo? Este é teu fim, caixa mágica!
E puxou o fio da tomada.
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