FAVORECIMENTO ILÍCITO - LEVI D'FREITAS
Passo apressado por entre as sacoleiras e boxes abarrotados de réplicas de marcas famosas. Ao encalço, o primo do interior.
-Esta calça está boa! Quanto custa?
-20 reais, amigo – responde o homem de meia-idade, demonstrando interesse naquela venda.
-Não está bom o preço. Vi mais à frente modelo semelhante a 17 reais. – Intervenho, a fim de facilitar a economia de meu parente.
-A este seu preço não posso vender.
Cerra a face e nos vira as costas.
-Ora! Este lugar está cheio de vendedores mais simpáticos e flexíveis. Caminhemos, meu primo! Você vai voltar com as sacolas cheias para sua cidade!
Passamos a manhã a rodar a praça e encher sacolas que farão a alegria de muitos na cidadezinha de onde viera o meu amigo.
-São os presentes de Natal. – dizia.
Ao fim da manhã, ponho-o no ônibus que o levou para casa. Radiante estava, pois aprendera a arte da ‘pechincha’...
-Aprendera com um profissional! – gabava-me.
Telefono para casa e aviso todos: o primo já retornara ao seu lar.
-Mamãe, ficarei mais um pouco por aqui. Tenho negócios a resolver.
Ora, quem me dera ter retornado no ônibus que passara logo
-Obrigada, meu filho! Deus lhe abençoe! – agradeceu-me a senhora de idade avançada, ao sentar-se apoiando em meus braços e na velha bengala. Em seguida, aos seus pés, pus as pesadíssimas sacolas que ainda não entendi como ela conseguira carregar até a parada seletiva dos veículos comunitários.
Retorno ao que chamei de ‘reino do comércio alternativo’. Lá chegando, uma ligação:
-Irmão, estou por aqui também. Encontre-me na loja de esportes, vamos fazer negócios juntos esta tarde!
Passar a tarde fazendo compras com ele, no meio do ‘mercado alternativo’, sempre foi ótimo, desde a infância. Adorávamos baixar os preços das mercadorias na base da algazarra, e muitas vezes alegar falta de verba e sair rindo dos pobres que contavam com aquela venda. Ah, tempo bom em que eu conseguia me sobressair em relação aos outros... Tempo em que eu era ‘o’ comerciante...
-Querido irmão, quero comprar telefones celulares de forma não-convencional...
-Aonde você quer ir? – questiona-me, apesar de estar entendendo, no que sorri no canto da boca, já demonstrando a velha inclinação para a malemolente falação que iríamos ter com os vendedores a tarde inteira...
-Vamos ao ‘reino do comércio ilícito’, meu irmão!
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2 comentários:
Conta, conta, conta!!!! Mas afinal... o cara era seu primo ou amigo??...
Tri legal camarada!! Manda bala, Não deixa esse espaço morrer. Ele é um portfólio de vocês.
Os meninos e meninas da manhã estão de olho, babando, querendo ser que nem vcs qdo crescerem.
Abração
LG Capaverde
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