quinta-feira, 29 de novembro de 2007

FOME - LEVI DE FREITAS

FOME - LEVI D'FREITAS

Tenho fome.

Fome de vida, fome de morte.

Fome de sangue. Fome de sorte.

Fome de água. Fome de fogo.

Fome de terra, fome de bobo.

Fome de beijo, fome de cor.

Fome de tempo. Fome de dor.

Fome de lixo, fome de luxo.

Fome de medo, fome de bucho.

Fome de fome, fome de arte.

Fome de ser a fome da verdade.

Fome de estudo, fome de escola.

Fome de fumo, fome de droga.

Fome de farra, fome de foda.

Fome de f.

F de fome.

O mesmo do meu sobrenome.

Fome de ti, fome de eu.

Fome de luz, fome de apogeu.

Fome de noite, fome de aur revoir.

Fome de ir ao deus-dará.

Fome. Quem de ti me livrará?

Me prove, me beba, e me diga meu nome.

E você? Do que tem fome?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

INEVITÁVEL PENSAMENTO - LUIZA MACHADO

INEVITÁVEL PENSAMENTO - LUIZA MACHADO

O tempo passa realmente rápido!
Então, quero descobrir o que é bom enquanto há tempo.
Continuar a reclamar, mas aproveitar mais os acontecimentos.
Dirigir mais, cantar alto, me deixar descabelar, tirar mil fotos por dia. Mas tudo isso, se houver sorriso sem vergonha, sem vergonha de ser feio ou torto. Vou envelhecer. E então pensarei no que vivi. Será que vou ver o tempo escorrer pelos pés e me deixar com água na boca de quando podia ter curtido mais os momentos? Será que vou ter a mesma sensação de quando olho a minha mãe e penso: cansada, essa menina linda.
Como eu queria ter visto seu corpo jovem desfilando pelas ruas da cidadezinha e ela a conversar com os conhecidos. Será que ousava ou se reservava? Do jeito que é, devia ser como minha irmã, amar viver. Mas e depois? Por que hoje não ver muitos motivos pra se valorizar? Perdeu o gosto por si?
Eu não quero chegar na fase do “tanto faz”. Ter mais um amigo: “tanto faz”. Ir ao cinema: “tanto faz”. Escrever: para que? O que penso já, já passa. Isso é não quero, não aceito!
Temos que aperfeiçoar nossos gostos. Explorarmos nossas qualidades. Não maquiar os defeitos, eles sempre vão existir. Mas exibi-los menos e descobrirmos mais qualidades. São elas que nos animam.
Certo dia, ia passando pela rua e vi um papel bem amassadinho na ponta da calçada. Ele me atraiu por ter uma cor forte. Nunca havia parado antes por causa de um papel na rua. Não sou daquelas pessoas que encontram dinheiro perdido no chão. Geralmente olho para frente. Mas neste dia eu estava cabisbaixa.
Quando pequei o papel, pouco conservado, fiquei paralisada. Era algo que jamais havia prestado atenção. Deu uma dor no coração e ao mesmo tempo uma vontade de descobrir as coisas do mundo. As cidades. Os lagos. Andar a cavalo. Correr até a maré mais próxima. Não importava se eu ia fazer algo que já tinha vontade de repetir ou que sempre sonhei. O principal era viver!
O papel tratava-se de uma foto, do estilo comparativo, feito antes e depois de uma pessoa. Era uma menina muito jovem, aparentemente sozinha. Mas que tinha seu encanto. Parece que existia o desejo de buscar a felicidade total do mundo. Mas do lado dessa foto havia outra dela numa cama de hospital. Quase morta. Embaixo a legenda: Sem coração não há vida. Doe órgãos!
Pensei quanta gente jazida carregava consigo córneas, rins, medulas que poderiam salvar pessoas.
Tantos poderiam dar continuidade à vida, mas não fazem isso. Será egoísmo ou pensamento conservador inútil? Depois que morremos ou a terra cobre nossa beleza, que tanto tentamos valorizar enquanto vivos, ou viramos cinza. Nada mais que isso. Aí termina nosso valor físico, concreto. Deixamos de trazer a alegria, reavivar pessoas. Será que conhecemos o verdadeiro sentido do amor?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

CARLOS EDUARDO SAMPAIO - UM SOPRO

Você bem sabe, há algo dentro de ti que é teu eterno inimigo.
Que te puxas pra baixo, um espírito de gravidade, que te humilha.
- Mas como? Tenho mesmo que curvar sempre no dia seguinte a ele?
Sempre, sempre e sempre. Guardo comigo um pouco desse veneno.
- Ah, quando foi que provei desse infortúnio? Quando me viciei?
A culpa é tua! Alimentares quando te achavas só. Correu para ele.

U Meu refúgio ainda me matará um dia

m Numa noite clara, com escuro propósito.

s Quem sabe uma vaga idéia de vida

o Perto do meu último suspiro,

p Ainda encha meu peito de remorso?

r Ou me alivie nessa minha partida.

o Com o orgulho de uma honra sentida.


Pensemos no corpo. Aparentemente ele se beneficiou
Numa idéia paradoxal do quanto mais se destrói mais acha que viveu
- Mas a vida não é essa dialética? Esse ‘morrer’ a toda hora?
Morremos a cada dia para afirmar a vida.
- Devo ter morrido uns três meses nesses últimos dois dias.

Escrever é para mim a minha mais atual imprudência
Não só me consome como me fragiliza

Aliás, quem de nós dois tem a coragem de dizer o contrário?
De afirmar que isso é um reflexo de uma vaidade supervalorizada?

Queime o que há de mais belo em mim!

Que queime meu inimigo!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O EXCESSO DE VAIDADE TEM SEU PREÇO! LUIZA MATOS

O EXCESSO DE VAIDADE TEM SEU PREÇO! - LUIZA MATOS

É impressionante o quanto a cada dia, mais mulheres estão em busca do corpo perfeito. E não só sou eu quem se surpreende. Cirurgiões plásticos também ficam admirados com o número crescente de pessoas que procuram as clínicas esteticistas. Que vão em busca do corpo perfeitamente esculturado. E para alcançar esse objetivo, submetem-se a cirurgias de prótese de silicone, de lipoaspiração. Mesmo sabendo que essas práticas não são totalmente seguras, o desejo de modificação do corpo prevalece.
É importante que aqueles que pretendem fazer cirurgia reparadora fiquem cientes do risco que irão correr.
Os jornais mostram constantemente incidentes ocorridos durante essas cirurgias. Incluindo óbitos, que podem ser causados por embolia pulmonar, queda de pressão arterial, parada cardíaca. E depois da operação a pessoa continua sujeita a morte, correndo o risco de sofrer ânsia e taquicardia, por exemplo.
Juízas, dançarinas, gerentes comerciais, travestis, administradores já perderam a vida por exaltar a vaidade. Começam colocando prótese na mama e quando percebem já estão fazendo lipoaspiração a cada seis meses, na barriga, nas costas. E ainda existe quem afirme não estar ciente dos riscos dessas cirurgias plásticas.
Injetar silicone líquido na face, na mama, nas pernas e em outras partes do corpo pode ser bastante perigoso.
As pessoas devem se amar mais. Valorizar o olhar, o sorriso, o raciocínio, o intelecto. De que adianta ver-se desejada por todos? Olhar-se no espelho e encontrar o corpo perfeito, se não consegue ter uma conversa interessante por mais de dez minutos?As pessoas estão pagando um preço alto demais para se sentirem mais amadas, mais satisfeitas consigo.
Essa vaidade demasiada está fazendo com que muitos percam a vida. Será que vale arriscar-se tanto para ficar do jeito que sabe que não será jamais possível: perfeito!
Mulheres, a auto-estimas depende do que se tem, e não do que se pretende adquirir. Não é uma prótese a mais que mudará o seu valor!

O CORAÇÃO - LEVI DE FREITAS

O coração - Levi d'Freitas

Era uma vez um coração.

Um belo dia, este coração se apaixonou por uma flor.

Desde então, o coração falava: “-Eu amo a minha flor!”.

E a flor nada dizia.

Passou o tempo, e o coração insistia em proclamar as mesmas palavras, sem se preocupar em saber o que a flor achava daquilo tudo.

Ele esquecera que flores precisam ser regadas.

Esqueceu que flores também precisam ser podadas, para não se auto-destruírem com seus espinhos.

E a flor morreu.

E ele não percebeu.

Seu erro? Ter amado demais e cuidado de menos.

Então, era outra vez um coração. Novamente, sozinho.

SÓ UM DETALHE - LUIZA MATOS

SÓ UM DETALHE - LUIZA MATOS

Sempre tive curiosidade em saber o que às pessoas faziam depois do ônibus.
Para onde elas iam.
Já me imaginei diversas vezes como jornalista investigativa, daquelas que esperam só um toque no cabelo para formar o parágrafo.
Tanta senhora já aflorou minha imaginação. Era incrível ver aquelas, que estão quase no fim da vida, olhar de forma carente para a primeira poltrona que visse e esperar que alguém oferecesse o lugar aos seus cabelos brancos.
Penso como teria sido sua face na juventude. Que tipo de perfume ela gostava de usar. Por falar nisso, porque você me disse que perfume é a persuasão usada na sedução? Será que mesmo aquela velhinha com cheirinho de bebê queria atrair o olhar de alguém? Coitada, parece ter preparado muito cuscuz na vida. E agora estar abandonada pelos filhos que ela tanto fez com que tivesse um bom futuro. Mas esse sorriso que lhe escapa a boca, ao ouvir uma musica sertaneja, inutiliza toda a minha tese. E se ela for feliz por ser devota a Deus desde a mocidade? Ou se sempre foi bom pra ela ver seu amor chegar a casa, lhe olhar com cara de superioridade e dizer: vem mulher, não vou tomar banho. Bota minha colher com o feijão na mesa. Já vai anoitecer.
Se for parar pra escrever cada pessoa com a sua respectiva particularidade que me roubou a atenção, eu escrevo meu livro. E o ambiente vai ser realmente o ônibus. Tentaria descrever o lugar que cada um demonstrava querer parar e viver um minuto de felicidade. Ou o que sonhariam em estar fazendo. A cama que esperavam encontrar para que não se sentissem ridicularizados, dormindo em meio a todos, acordando assuntados com medo de perder o destino rotineiro.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

HOJE (VAI DAR MERDA) - LEVI DE FREITAS

Hoje (vai dar merda) - Levi d'Freitas


Sabe aqueles dias em que você acorda e diz: "Hoje vai dar merda..."?
Pois é...
Acordei aos tropeços, atrasado (mais uma vez) para o trabalho. Nem lembro se comi alguma coisa, só lembro de ter vestido a camisa ao contrário e ter pegue um cinturão incrivelmente sem noção, dos tempos de adolescência, daqueles com pinta de bandinha de rock, do tipo que você não usa nem nos próprios shows de rock, que insiste em ir escondido dos amigos, pra não dizerem quem você estacionou no tempo e pra não ouvir as piadinhas "-Olá, titio! Foi ver a Xuxa?"
Enfim, vou ao trabalho atrasado, provavelmente com fome (repito, não lembro de ter comido nada!), e escondendo o visual tosco que usava. Minha voz, fraca. Tossia.
Fortaleza é uma cidade incrivelmente quente. Apesar dos ventos fortes, o calor cearense é inquietante. Por conta disso, uma leve mudança de temperatura causa filas enormes nos hospitais. E eu sou um destes, pulmão de algodão. Mudou a temperatura, mudou meu estado de saúde. Ou seja...
Chovia. Quer dizer, choveu. Esperei a chuva passar para sair de casa, olhos inchados de sono, óculos escuro para escondê-los. Dia nublado. Assim seria até o fim.
(...)
Chego em casa fatigado. Que porra de dia! Ah, mas vai melhorar... Já já irei para os braços da minha ruiva... Ah, só ela para transformar meu desespero em calmaria... Só ela para fazer brilhar o sol em meu dia!
Almoço (devoro...) rapidamente, por conta da fome e da pressa. 14:45. Marquei de estar na casa dela às 14:30. Mas ela me conhece. Sabe que eu sou o 'incrível homem atrasado'. Já lhes contei que atraso desde o dia em que nasci? Atrasei dois dias, ao nascer. A festa toda pronta aqui fora, e eu jogando carteado com as tripas de mamãe. Ainda lembro da mão pegajosa daquele ser de vestes alvas me puxando à força para fora, e me dando palmadas no bumbum!
Enfim, saio de casa novamente. Agora, em busca de novos ares!
Vou (de ônibus, mais uma vez... que saco!) à casa da namorada. Não sem antes pagar outro vexame no coletivo... Desta vez, a 'santa carteirinha de estudante emprestada' teimou em ser recusada pelo leitor óptico. Já ouviram que a informática tem pacto com o demo? É fato. Fui obrigado a pagar passagem inteira novamente.
20 minutos mais tarde, chego (vivo e sem grana) e dou um abraço meio sem sal naquela menina de olhos inquietantes. E ela me dá um beijo frio, tão frio, que esqueci aquele dia quente e infernal.
"- Que mulher! "
E me chama para dentro. Estava sozinha. Senta-se no sofá, com ar cansado. Exausta. Cuidar da casa e dos irmãos não é fácil. Eu ofereci meus préstimos a ela. Disse que sabia cozinhar, lavar, passar, fazer cafuné, dirigir... Ela, porém, negou minha ajuda. Mulher independente, sabe como é...
"-Querido, precisamos conversar."
Claro, meu bem! O que não faço por você? Até paro de falar, só pra ficar te olhando...
"-Querido, não dá mais. Infelizmente, não dá mais. Adeus"

________________________________________________
(Essa linha representa meu silêncio.)

Já levou uma surra depois de comer duas panelas de buchada de bode? Ou já te escaupelaram e, seguidamente, te lavaram em uma caixa d'água com sal grosso?
Fico mudo, estático. Já não bastasse tudo que enfrentei na porra deste dia, agora, a única que era meu refúgio, me dá um pé na bunda sem motivo.
"-Tudo bem. Se você quer assim, que seja."
Rumo à parada de ônibus. Subo no primeiro que passou. Ligo meu MP3 Player e escuto aquela que um dia foi a 'nossa' música.
"-Deus, você realmente não gosta de mim."
Atravesso o ônibus, pago passagem inteira (creio que eu deveria pagar passagem pra todo mundo naquele ônibus. Vai que uma 'boa ação' me ajuda a acordar desse pesadelo...).
Vou agora à faculdade. Ah, faculdade! Lá estão meus amigos. Ultimamente, o que seria de mim sem meus colegas jornalistas? Nada! Eles me apóiam... Me dão conselhos... Me pagam cerveja e me dão carona para casa! Ôba!
Vou sonhando com a cervejinha depois da aula. Hoje tem futebol... Hoje é o dia nacional da cevada!
Chego na faculdade duas horas antes do início da aula. Ainda vejo o pôr do sol da sacada, coisa mais linda que se têm notícia ali. E fico imaginando aquele momento, abraçadinho com uma menina dos cabelos de fogo...
"-Não vou chorar. Homem não chora. Preciso de um computador!"
Desço e corro aos computadores livres. Preciso escrever. Fico sentado por uma hora, sem conseguir escrever nada. Apenas olho a tela tubular negra, como se conversasse comigo.
"-Que tens, rapaz? Dedilha minhas teclas, escreves tua dor. "
Não dava. Saio de lá, em busca de algo que não sei o que é.
"- Vou dar em cima da primeira mulher que me aparecer!"
Então vem, em minha direção, a freirinha lá da sala...
"-Nããããããõoooooo!!!"
Corro para a sala de aula. Lá estarei longe destas perseguições.
Já está escuro. A noite toma conta dos corredores e do meu coração amargurado. Não consigo esperar pelo fim (início?) da aula. Vou para casa.
(...)
Deito e ainda vejo o final do jogo de futebol... O Brasil ganhou... Que maravilha... Ao menos, uma boa notícia. E amanhã, amanhã será um novo dia.

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...

Sabe aqueles dias em que você acorda e diz: "Hoje vou limpar a merda."?
Pois é...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

ESCOLHESTE-ME - LUIZA MATOS

Escolheste-me - Luiza Matos


Não te encantes comigo!
Não beneficiarei em nada tua vida.
À sua saúde, serei prejudicial.
Exijo total exclusividade.
Quando faço com que proves um pouco, sempre quero que vá até o fim – mesmo que ele não exista.
Invado, descaradamente, teus pensamentos.
Envolvo, compulsivamente, tuas mãos.
Não será possível que faças análise sem que me inclua como motivo central da tua loucura.
Minhas extensões são firmes.
O medo que tinhas quando não me conhecias, agora será intensamente constante.
Viverei essencialmente cada momento teu.
Escolheste-me entre tantas!
Mesmo que te avisassem que nada eu valia.
Que estavas fazendo investimento banal, estudo inoportuno.
Mas não me abandonaste.
Falaram-te do estado de miséria que viverias até o fim da vida.
Mas mesmo assim, não desististes de mim.
Depois que experimentastes, tornastes dependente.
Não há quem te impeça de ser jornalista.
Mesmo que jamais publique o que escreves, não consegues parar.
Sabes que não tem jeito.
Agora és meu.
Realmente, exerço fascínio!

Luiza

FACE DO COTIDIANO - JANAÍNA BANDEIRA

Ela veio me tocar hoje cedo. Uma delícia poder sentir o frescor me encorajar para continuar seguindo em frente. Ela me beijou e ziguezagueou adiante, lambendo outras pessoas para que pudessem sentir a magnitude de um dia ensolarado e belo. E a brisa se foi. Depois, levantei e percebi um céu azul de infinita beleza e contemplei a mão de Deus nas mínimas coisas. Aquelas que não damos valor. O que era ontem um botão, hoje é uma linda rosa. As formiguinhas carregando seu alimento. Elas são tão amigas umas das outras... Tão diferentes dos seres humanos... O ser humano era pra ser chamado ser bicho, pois não sabe viver em harmonia. Está sempre complicando as coisas. Sinceramente, parece que gosta de viver em um emaranhado de idéias malucas e problemas. Aliás, esses (os problemas), o ser humano tem uma facilidade incrível de adquirir. Vai atrás mesmo. Não consegue viver sem eles. Mundo cão. Falta de amor ao próximo. Falta de equilíbrio. Famílias desestruturadas. Filhos órfãos de amor.

domingo, 18 de novembro de 2007

PERSONAGENS DO COTIDIANO - CARLOS EDUARDO SAMPAIO

Personagens do cotidiano - Carlos Eduardo Sampaio

O preferido dos filhos era o menorzinho. Falava com admiração da inteligência do rapaz com os números e com as letras. Sorria enquanto falava, mas enfatizava: gosto de todos eles! Mas não escondia sua enorme alegria pelo único filho que sabia ler e fazer contas. Também pudera. No meio da vida sofrível que tivera com os pais, nunca tinha tempo suficiente para estudar. Trabalhava de dia na roça junto com seus pais e irmãos. Nove ao todo. Todos assim como ele: camisas suadas e maltrapilhas. Ele vai ser diferente de mim! Ah se vai! Inteligente esse diabo! Não parava de falar das habilidades do menino com as ’contas’. A soma seu moço, dizia ele, é pra mim a mais engraçada. Qualquer erro e o resultado já era. Tentei lhe explicar que nessas abstrações matemáticas, segue-se uma lógica, e qualquer falha nessa lógica, em qualquer que fosse a operação; seja soma, multiplicação ou divisão, o resultado estaria perdido. Mas desisti. A vergonha não me deixou que naquele momento se abrisse um abismo intelectual entre eu e aquele sujeito simples e rústico. E continuei a escutá-lo. Nesse instante eu já ia do cansaço de ficar em pé a ouvi-lo à curiosidade pelo seu modo expressivo de se comunicar. De todo esse momento, a única coisa que estava em meus pensamentos, era uma terna condescendência de estar diante de uma pessoa que me era familiar somente nos livros. Quem nunca ouviu falar que o sertanejo era, antes de tudo, um 'forte'? Pois é. Naquele instante, vi um desses se emocionando e convertendo em lágrimas a sua admiração pelo filho mais novo, que sabia ler e escrever.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O TORMENTO DE MARIANA - JANAÍNA BANDEIRA

O Tormento de Mariana - Janaína Bandeira


A menina observava atônita o pai, completamente embriagado, humilhar sua mãe e gritar com seus irmãos. Ela também não conseguia entender por que ele sempre agia dessa forma, deixando todos amedrontados.

Mariana era a caçula de três irmãos e, mesmo sendo muito pequena, não entendia por que sua mãe não fugia de todo aquele sofrimento. Podiam ir morar em uma fazenda cheia de bichinhos e um açude bem grande, onde poderiam tomar banho e se divertirem a valer. Lá ela não precisaria escutar o choro de sua mãe todas as vezes que seu pai a espancava. Lá ela não teria que ver seus irmãos se levantarem de madrugada para, por ordem do pai, puxarem água da cacimba para que ele pudesse tomar banho e tirar o cheiro que as outras mulheres deixavam em seu corpo. Mas que mulheres? Aquelas que ele arranjava na rua e que quase não o deixavam voltar pra casa. Quantas vezes Mariana desejou em silêncio que elas conseguissem e ele não voltasse mais. Dessa forma não precisaria mais fingir ser feliz. Estaria. De verdade.

Um dia Mariana acordou na casa da avó materna. Finalmente sua mãe dera o grito de liberdade e abandonara seu pai naquela pequenina casa. Seus irmãos, já maiores, contaram tudo pra ela e Mariana festejou dando gritos de felicidade. Sua avó se mostrou carinhosa e acolhedora. Finalmente eles teriam paz. Ledo engano.

O tempo foi passando e Mariana foi crescendo e percebendo melhor as coisas. Sua mãe agora trabalhava e estudava, coisa que antes não podia fazer, pois o marido não permitia. Certo dia conheceu um homem e começou a namorá-lo. Nessa época Mariana já estava com seis anos e, como seus irmãos, não gostava nada do intruso. Sim. Intruso, pois em tudo se metia e dava palpite. Sua mãe começou a ficar cada vez mais ausente e passar noites fora de casa de vez em quando. Sua avó se mostrava cada vez mais grosseira e impaciente. A menina e seus irmãos não entendiam o porquê de tanta rejeição e sofrimento. Por que será que as pessoas sempre faziam questão de entristecê-los e magoá-los?

Sua mãe casou com o tal homem e formou outra família. Mariana e seus irmãos tiveram que sair da casa da avó materna e foram morar na casa dos avós paternos. Ela sempre odiou o sentimento de pena. Era isso que as pessoas sentiam por ela: PENA! “Pobrezinha, coitadinha...” Quantas vezes ela chorou com raiva das pessoas. Tudo o que queria era sumir. Seus avós foram amorosos e atenciosos com os netos, fazendo o possível para suprirem todas as necessidades sentimentais e materiais. Nunca seria a mesma coisa mas, mesmo assim, eles tentaram. Um dia, infelizmente, morreram e ela se sentiu mais uma vez abandonada.

Hoje Mariana é casada e tem sua própria família. Mesmo sabendo que não existe perfeição, ela busca, incansavelmente, o equilíbrio exato necessário para que seus filhos não trilhem o mesmo caminho que ela. Que eles tenham um lar de verdade. Uma família de verdade. Que sejam felizes de VERDADE!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

ÀS 8, NO 7 - LEVI DE FREITAS

ÀS 8, NO 7 – Levi d’Freitas

Chego ao topo, fatigado. Recompensado sou, pela visão ao meu redor do ponto acima de si mesmo. Ouço o vento que me bagunça o cabelo e me beija a face. Ao horizonte, vejo a cor do fim do dia, a aurora da saudade dos momentos que se vão. Sobre mim, apenas o céu e as estrelas. Até a lua fez o favor de não me seduzir por este instante.

Ao longe, sinais de um mundo que não pára, o brilho artificial da cidade em chamas. Aos meus ouvidos, nitidamente, a conversa das nuvens com o tempo, o passeio da vida com o vento.

No parapeito, eu encosto meus sentidos. Escrevo linhas sem sequer enxergá-las. Minha caneta, tal qual carnívora, devora-me o caderno enquanto observo este chão tão esquecido, este lugar intrigante e soberbo, imponente e sedutor, famigerado em se fazer senhor de nós.

E assim, são 20 horas, no 7º andar da faculdade.



* (A Faculdade Sete de Setembro possui cinco andares ativos. Existem, contudo, dois andares construídos acima do andar de comunicação social (5º) que estão desativados. O "7º andar" é o esquecido e isolado térreo.)


domingo, 11 de novembro de 2007

EU ROUBEI O LOUVRE – LEVI DE FREITAS

EU ROUBEI O LOUVRE – LEVI D'FREITAS


Não me custou sonhar. A beleza e a lembrança, o tempo leva. A sutileza de tuas palavras, tão certas e eficazes, essa nunca passará. O delírio de um beijo, o espanto da realidade. Não posso te ter, e a vida continua. Pessoas vêm e vão. Agora estou até bem, você é que ainda precisa de mim. Mas não consigo ver teus olhos sem lembrar de toda a poesia, de cada acorde que descobri tentando te fazer a melodia mais perfeita, o verso mais completo. Mesmo que você nem bem me veja. Mesmo que a tua voz em minha memória seja mero resultado de meu tempo com você. Mesmo que você nunca me tenha dirigido um único olhar individual. Apesar de tua vida ser indigna, aprisionada em teus próprios átrios, tua fama é que me faz delirar, ou será o vinho que bebo? Não sei.

Teu sorriso, tão enigmático quanto este teu perfume de coisa que foi e não volta mais. És tão estranha... Fale alguma coisa! Não me deixe proseando sozinho!

...

Ah, entendi... É que esta tua boca não foi feita para jogar palavras ao acaso. Tua saliva não é para ser desperdiçada assim, com um qualquer. Não sois mulher de quem te deseja, mas de quem te consegue. Respeitarei tua natureza.

...

Vinho... Não tomas vinho? Há ainda alguma coisa nestas garrafas. Se quiseres, trago-te uma taça.

...

Não, não tomas vinho. Bebes néctar do Olimpo, não sois daqui, percebo. Tudo bem. Perdoe minha insolência, mas é que é difícil para um simples mortal te ver assim, tão de perto, tão única que és, tão individual, tão mística. Esta tua aura revigora! Preenche meus vazios sem nem mesmo me tocares, mesmo recusando meus afagos, mesmo me negando teus sentidos. E eu, abobalhado, somente te contemplo e te dedico estas minhas horas, o suor de meu corpo, o fruto de meu trabalho.

Como fora difícil te trazer aqui! Ah... Meses trabalhando, sonhando com este dia. O dia em que te teria aqui, comigo. O dia em que eu olharia para você e sentiria este gostinho de ‘missão cumprida’. Também não sei quanto tempo ficarás comigo. Espero que para sempre. Contudo, te suplico! Nunca me negues companhia. Jamais me condene por meus atos. Sou falho, diferente de ti. Sou arrogante e estúpido. Piso em falso a cada metro. Perdoe-me, não sou digno de estar ao teu lado, porém, aceita-me como sou. E nunca duvides do quanto te sou fiel. Do quanto te sou devotado.

Enfim, acho que vou te deixar em paz. Minha voz talvez já te tenha irritado o suficiente por esta noite... Espero que durma bem. Sonhe com os anjos, que eu sonharei contigo.

Estarei no quarto ao lado. Até amanhã. Boa noite, Monalisa.

Mais uma coisa: por favor, não me prives nunca de teu sorriso. Eu (te) roubei (d)o Louvre, mas queria mesmo era te roubar pra mim. Literalmente.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

POR FRAQUEZA! LUIZA MATOS

Abri os olhos e não consegui acreditar no que vi. Foi forte demais para mim. Ana, a mulher pela qual passei a vida à espera, agora se encontrava ali, bem diante do meu olhar paralisado. Não sabia como reagir.
Após alguns segundos, que passavam no mesmo compasso de horas, consegui reagir e buscar naquele lago límpido, a resposta para os meus sentimentos. Ela ainda me amava, estava declarado em seus olhos, mas algo mais se encontrava mergulhado naquelas águas. Abraçamos-nos, deixamos nossos corações se encontrarem.
Foi quando ela resolveu desabafar. Falava que havia voltado por causa do amor que sentia por mim, sabia que não era possível, mas... A interrompi. Por que não seria possível compartilhar o resto dos meus dias vivendo essa paixão? Falei que era parte do meu coração. E como eu poderia viver sem um pedaço dele? Mas Ana tinha um fato a me revelar. Ela, segurando fortemente em minhas mãos, disse que estava com câncer. E mais uma vez o silêncio fazia-se presente entre nós.
Tive vontade de falar-lhe que acima de tudo estava o nosso amor, mas agi como um covarde. Nem sempre é fácil expressar os nossos sinceros sentimentos. A mulher que tanto amei partiu, deixando-me saudades e um imensurável vazio. Eram pedaços meus que haviam sido perdidos. Ainda hoje, carrego um grande sentimento em meu peito, o arrependimento. Se eu tivesse sido forte, ao menos ela teria falecido ao meu lado.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

ESTOU AQUI - JANAÍNA BANDEIRA

Estou aqui - Janaína Bandeira

Até hoje me pergunto o porquê de tanta revolta. Me parece um misto de dor e raiva. Mas raiva de quê? A menina criada com tanto amor e carinho resolveu seguir um caminho na contramão. Contramão da vida, da certeza, da aceitação e até de seus princípios.

Aquela garotinha tímida que me procurava pra contar seus problemas já não é mais uma GAROTINHA. Ela cresceu. Anda com as próprias pernas e não quer ouvir nada do que tenho a dizer. Qual seu problema? Qual a sua dor? Por que está tão distante de mim? Por que não deita mais no meu colo e fala todos os seus segredos? Por que se perdeu na metade do caminho?

Eu quero dizer a ela que continuo aqui, no mesmo lugar. Meu endereço é o mesmo. Meu telefone não mudou. Meus ouvidos estão abertos para ouvi-la. Estou disposta a tentar entendê-la. Ela continua sendo especial para mim, embora tenha me magoado profundamente. Mas ela é minha amiga e amigas também erram. Talvez eu tenha errado, ou, quem sabe, nós duas tenhamos errado. Não importa. Estou aqui, tentando aprender com os erros da vida.

Sua mãe tentou se aproximar e ela não quis. Não permitiu que as correntes fossem quebradas. Sentia uma dor inexprimível. Ela vive em seu mundo e sonha com um futuro diferente de tudo que viveu até agora. Afinal, o que ela quer do mundo? O que ela quer da vida? Olha, eu continuo te amando e esperando. Venha até mim. Estou no mesmo lugar.

REVITALIZAÇÃO DO PASSEIO PÚBLICO - CARLOS EDUARDO SAMPAIO

Revitalização do Passeio Público - Carlos Eduardo Sampaio












Ah! Belos tempos aqueles. Inesquecíveis. Damas e cavalheiros de mãos dadas como se tivessem caminhando por bulevares parisienses. Tempo em que a França ditava modas e costumes na nossa Fortaleza. Senhores com trajes bem alinhados, senhoras elegantes, fontes, árvores, cafés, gente culta e interessante. É claro que falo de um tempo em que não havia shoppings. Nos shoppings as pessoas se esbarram, nas praças as pessoas se encontram. Essa diferença no contato é bem interessante para tentarmos entender um pouco do que seria esse homem moderno de hoje. O Passeio Público, no centro de Fortaleza, era o lugar de encontros das diferentes classes sociais da nossa cidade. É com alegria que recebo a notícia de que a Prefeitura de Fortaleza terminou sua revitalização e nos entrega um Passeio Público revigorado, com segurança e projetos culturais para não cair no abandono e sofrer toda a sorte de ações de vândalos. Penso que se todos os comerciantes do centro da cidade parassem para refletir que eles são a parte que mais ganharão com a revitalização dos principais pontos turísticos do Centro, teríamos um lugar mais seguro, limpo e agradável. Mas na visão estreita dos nossos comerciantes do centro da capital isso é trabalho apenas da prefeitura. Vamos torcer para que o Passeio Público não caia no esquecimento novamente e traga histórias divertidas e curiosas como em tempos passados.


sábado, 3 de novembro de 2007

PROFISSÃO: MÃE - JANAÍNA BANDEIRA

Profissão: Mãe - Janaína Bandeira

Sinceramente, ser mãe não é a coisa mais fácil do mundo, mas é uma dádiva que eu aproveito intensamente durante todo meu dia. Acordar cedo, fazer mamadeira, sanduíches, leite com achocolatado e mais uma infinidade de coisas... Isso tudo caindo de sono, pois no dia anterior cheguei tarde da aula.

Sempre falo para as pessoas que meu maior patrimônio são meus filhos. Na minha casa tenho quatro criaturinhas pelas quais daria minha vida se fosse preciso. É uma sensação maravilhosa poder gerar uma vida e carregar esse ser durante meses na barriga sentindo toda sua vitalidade. Ao nascer, aquele choro delicioso, forte, impondo sua presença a todo custo. A babação da família, noites mal dormidas, fraldas e dores decorrentes do parto recente. Amamentar, então, que maravilha!

Eles vão crescendo, aprendendo a andar e a falar. Os primeiros dentinhos, o primeiro passeio, os gritinhos de felicidade ao ver o mar (Acho que para eles é uma grande banheira para tomar banho). No carro, a briga para ver quem fica na janela. Em casa, mais uma vez se desentendem para escolher o canal da televisão ou de quem é a vez no videogame. Enquanto isso a pobre mãe vai contando de um até dez, para não acabar internada em um hospício para o resto da vida. O pai, que trabalha fora de casa quase o dia inteiro, só quer silêncio na hora do Globo Esporte. Coitado! Esse, se tivesse que passar pela metade do que a mãe passa o dia todo, certamente já estaria no soro. Mesmo assim, ele é um anjo que Deus colocou na minha vida.

E eles continuam crescendo. As namoradas aparecem e você tem a sensação de já estar prestes a ser avó. Socorro, estou envelhecendo! Conheci a garota e até que achei-a simpática. Ela nem pense em tomar meu filho de mim! Meu Deus, daqui a algum tempo estarão casando. Fraldas e choro novamente. Dessa vez não serão meus filhos, mas os filhos deles. Às vezes fico me imaginando sentada em uma cadeira de balanço, escrevendo meus artigos e crônicas, com um monte de netinhos a minha volta. O que será que a vida me reserva daqui pra frente? Sei que tem um Deus que cuida de mim e que, com certeza, me dará o melhor, como me deu até hoje.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A GLOBO E A DISPUTA PELO PENTA - LEVI DE FREITAS

A Globo e a disputa pelo penta.

“É peeeentaaaaaa! É peeeeeentaaaaaa!” – Galvão Bueno

31 de Outubro de 2007. Estádio Morumbi, São Paulo/Sp. Cerca de 70.000 torcedores ensandecidos acompanham a partida que, matematicamente, decidiu o campeonato brasileiro do ano em questão. A bola, tal qual musa, passeia na passarela verde, de pé em pé (e de pé em cabeça), até morrer no gol, por três vezes seguidas. São Paulo 3 x 0 América. Conquista tricolor no campo, inquestionável. A disputa, por pontos corridos, contou com mais 18 concorrentes. O São Paulo conseguiu a façanha de, com quatro rodadas de antecedência e 15 pontos de vantagem sobre o atual segundo colocado (o campeonato ainda não acabou), faturar o torneio pela segunda vez consecutiva, e pela quinta vez em sua história.

Seu goleiro, Rogério Ceni, barreira quase intransponível, é venerado no mundo inteiro como um dos melhores jogadores em atividade. Sua linha de defesa, ovacionada por muitos, devido sua segurança e confiabilidade. Seu elenco, inquestionavelmente o melhor do país. Seus cofres, os mais cheios. Seus títulos, os mais importantes. Chamado no exterior de ‘o rei do Brasil’, o ‘papa-títulos’.

Diante de tudo que fora exposto, além de acompanhando a trajetória desta vitoriosa equipe há anos (exatos 15), como não render-me a ela? Por isto, parto agora em sua defesa. Além de não perder a oportunidade de criticar a Rede Globo...

Após a conquista tricolor, um assunto fora desenterrado pelos nossos irmãos jornalistas do Globo Esporte. 15 (ou 20) anos depois, eles agora vestem-se de rubro-negro e partem em defesa do polêmico título brasileiro do ano de 1987, ‘conquistado’ pela equipe do Clube de Regatas Flamengo, segundo o ‘Clube do 13’, uma espécie de sindicato fajuto dos ‘principais’ clubes de futebol brasileiros, contudo, negado pela CBF, entidade máxima do esporte no país. Ora, não fosse a fragrância mumificada, ainda há agravantes que tornam toda esta história inviável, principalmente se observados quem está tomando posicionamento. Contudo, discursemos sem ‘agressões’ e nos embasemos em fatos.

A princípio, por qual motivo a diretoria rubro-negra deixou que seu direito de campeão fosse expurgado de si durante tanto tempo? O título em questão, datado do ano de 1987, ou seja, já há 20 longínquos anos decorridos. 20 anos! Isso é mais do que eu tenho de vida! Sendo uma equipe de tanta torcida, reconhecidamente influente no cenário nacional, deixaram-se ‘furtar’ o direito do título e não se manifestaram... E a culpa, de quem é? Sem falar de que o tal pentacampeonato flamenguista só viria se concretizar em 1992, mesmo assim, sem manifestação por parte de sua diretoria no sentido de fazer revogar a decisão da CBF em decretar o Sport Clube de Recife campeão brasileiro de 1987.

A seguir, ainda falando de CBF, é ela a entidade maior de nosso futebol. Se por ela for dito que não existe Flamengo ou Vasco ou Íbis, qualquer que seja deixará de existir e de participar das atividades profissionais do esporte mais popular de nosso país. O que leva-nos à conclusão de que não existe “Clube dos 13” que decida sobre qualquer disputa interna profissional. Ilusão de qualquer dirigente que crê que ali está o ‘poder’. Mero poder de si sobre si mesmo. Humildemente, é disto que estou falando.

Prosseguindo, e agora, atacando: Que diabos a Rede Globo tem haver com a história toda? Pior: tomando posicionamento, ora ‘bolas’! Quem acompanha a peleja pelo site da rede, percebe nitidamente que a imparcialidade é posta para escanteio e escancara-se a disputa pelo título de ‘único pentacampeão brasileiro’ como sendo atitude anti-ética da parte do tricolor paulista, que deveria, segundo sua visão rubro-global de apresentar os fatos, prostrar-se diante do time da gávea e ofertar-lhe reverências, por ter ‘igualado’ seu ‘feito’. Mais uma vez, balela do ‘plin-plin’!

Quero enfatizar que escrevo não afirmando que o Flamengo é ou deixa de ser pentacampeão, assim como o São Paulo. Como torcedor, não nego que não concordo com a igualdade de títulos. Para mim, penta, apenas o São Paulo. Porém, como homem crítico, percebo obviamente que o Flamengo fora campeão sim em 87. Contudo, a disputa entre os dois times agora é por uma taça vinda da CBF, destinada apenas ao ‘primeiro pentacampeão brasileiro’. De fato, o Flamengo. De lei, o São Paulo. Como o assunto é entre entidades, minha crítica é para esse jornalismozinho empregado por uma rede tão citada como a maior potência em nosso país. Daí vem nossos problemas: se a nossa maior mídia, a alienadora-mor, toma posicionamento de forma tão exacerbada (da forma que tentei reproduzir aqui, para quem percebeu minha ‘aparente’ contradição), a ponto de desrespeitar as entidades envolvidas, os torcedores que lêem, os jogadores que fizeram história... E os jornalistas que a repugnam!

Acredito que escrever com paixão, com uma pitadinha de falta de objetividade, não faz mal. Contudo, fato preocupante é escrever em rede nacional, acessada por milhões diariamente, de diferentes credos, cores, pensamentos e paixões, tomando posicionamento sobre um fato de bastidores, tendendo a provocar, inclusive, ‘guerras’ entre as torcidas, que não tem nada a ver com isso, porém, que são as mais fracas na situação toda, que tendem a sofrer as piores conseqüências, antropologicamente falando.

Ao São Paulo Futebol Clube, parabéns pela belíssima campanha. Ao Clube de Regatas Flamengo, paciência. Entrem na justiça contra a CBF, não contra o São Paulo. À CBF, coerência. À Rede Globo, plin-plin. Abram a cabeça.

Levi de Freitas.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

UM CERTO JARDIM - LUIZA MACHADO

MEU JARDIM – LUIZA MACHADO

Lá no jardim de inverno da minha casa,

Feio, triste jardim de inverno.

As plantas sentem calor.

O pior é que sempre quis ter um.

Mas se eu soubesse que tanta tristeza as plantas passavam, coitadas, nunca teria desejado tê-las.

Elas continuam vivendo ali, sozinhas.

Mas agora eu também estou sozinha

Não me sinto capacitada para fazer-lhes companhia,

Levar vida a essas tristes meninas.

O tempo vai passar e elas vão continuar ali, bem no canto da sala.

Olhando-me todos os dias quando acordo e passo com roupas desajeitadas.

Quando fico por horas sentada diante delas, descobrindo um mundo inimaginável para as coitadas.

Mundo um pouco impressionista. Sobre natureza morta ou algo socialista sobre a Revolução Russa.

O importante é que invariavelmente elas continuarão ali. Quase mortas.

Esperando o dia em que alguém lhes traga vida.

Se é que já não perderam as esperanças...

Diferente de mim, que quando penso que cheguei ao fim vejo-me revigorar e consigo continuar.

LELLA - LEVI DE FREITAS

LELLA – LEVI D’FREITAS

Eu espero por você como espero pelo sol
luz que apaga a vela, acende a chama que não queima.

Pelas frestas de teus olhos, vejo o brilho do horizonte
sinto o cheiro da virtude, ouço os passos da certeza
e o monte que me espera: que me leve com você!

Deus, te agradeço. Me puseste na hora certa, no lugar certo
os olhos certos;
a palavra certa, a verdade, perfeita.

Meu rumo e sentido, agora, quem são?
Meu pai, minha mãe, onde está meu irmão?
A você que tenho e rezo
a quem mais poderia oferecer?

Eu largo tudo, pulo bem profundo
venho só pra te dizer
não dá pra te esquecer
eu posso te entender
me aceite com você.

A qualquer momento,
me aguarde no saguão.
Vou mesmo neste avião
com destino à felicidade.

Felicidade essa,
que pra mim é você.