sábado, 29 de dezembro de 2007

TRISTEZA URGENTE - LUIZA MATOS

Mais um dia que estou tendo que viver
Por favor, alguém entenda meu silêncio.
Leia meu olhar
Sem que seja preciso que eu diga que ele está quase morto
Encontre meu sorriso
Ou melhor, traga um pra mim de presente.
Não tem mais como encontrar vestígios do que um dia habitou esses lábios.
Entenda meu silêncio
Mas não me dê um olhar de misericórdia
Quero o teu amor
E que ele, em sua real simplicidade, alegre-me!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

EPITÁFIO SEMESTRAL.1 - LEVI DE FREITAS

EPITÁFIO SEMESTRAL.1 - LEVI D'FREITAS

Queria ter dito a verdade a quem eu amo.
Queria ter visto mais o sol se pôr no mal.
Queria ter virado noites,
ter acordado falando bobagem.
Queria ter sentido o céu em dias de chuva,
Queria ter comido mais, bebido mais,
escrito mais.
Mas, meu coração sangra
ao som de Angra
e só sei que não soube amar,
não soube viver.
Que não toquei guitarra o quanto gostaria,
que não li Nietzsche como deveria.
Que não rezei e que não é tão boa minha poesia.
Por fim, a quem isto lê, saiba que vivi e tentei amar
que escrevi e tentei dizer o que senti.
Me acorde às 6, por favor. Hoje é o último dia de aula.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

NOITES - LEVI DE FREITAS

Noites - Levi d'Freitas

Eu passo noites em claro

Lembrando de você.

Dos momentos que tivemos,

Dos nossos encontros a sós.

Eu passo noites sem sono,

Sonhando de olhos abertos.

Quando volto a mim,

Vejo que você não está aqui.

Eu passo noites longas,

Intermináveis.

Esperando você chegar

E a noite terminar.

Eu passo noites horríveis.

Você se torna meu pesadelo.

Estou acordado

E morrendo de medo.

Eu passo noites sem escurecer.

Mais uma noite acho que vou morrer.

Por que

Eu passo noites sem você.

Sem poder

Te ter,

Esta noite espero te ver.

Em sonho, pode ser.

Esta noite vou sonhar com você.

E ver você

Me fazer feliz

Ao menos em sonho.

(Isto é, se conseguir dormir sem ter você aqui.)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

CARLOS EDUARDO SAMPAIO - L.A.B

Diário,

Completo hoje quinze anos. Quanta felicidade! Uma idade mágica, que toda garota sonha. Agora posso dizer: estou no auge da minha puberdade! Os anos da minha vida com que tanto sonhei. A vida toda por se desenrolar, ali, na minha frente. Todos os desenganos, as dúvidas, as afirmações pertinentes da própria idade. Nunca mais ouvir exemplos dos outros, estórias de minha mãe, minhas tias. A minha própria vida agora. E ela está lá fora. Quisera eu ter braços grandes para abraçar tudo. Vivenciar tudo. Uma chama que quer me consumir com rapidez e intensidade! De delírio em delírio sonho com uma pessoa para toda a vida. Meu corpo já crescido; seduz e induz ao amor e ao querer. Passeio por entre os homens e sinto o desejo deles me sufocando. Olhares de bichos famintos, esperando a hora de me atacar. Ando receosa, tímida, mas com toda a exuberância e desenvoltura de uma menina de quinze anos. Dormi mais cedo ontem para que esse dia chegasse logo, pra acabar com minha ansiedade. Hoje acordo menos dolorida. Com dor igual eu ficava quando comecei a menstruar. Porém essa dor é mais aguda, mais profunda. Sinto-me muito fraca ainda. A comida que me dão aqui é muito pouca. Não é justo pelo esforço que faço. Pelo que suporto. Pelas carnes fedidas a me agredir. Um, dois, três... Cada dia eu tenho que satisfazer um número maior de apetites. As manchas roxas dos primeiros dias nas minhas pernas, já estão quase desaparecendo. Meus braços já não mostram as marcas da violência de antes. Meu nariz aos poucos suporta esse cheiro de barba imunda, de pele suada. É inútil resistir: um tapa que me arde a face, dois braços que me puxam para o chão e estou ali, brutalmente pronta. Quase desfalecida pelas agressões. Não resisto mais, por isso a minha pele tão manchada pela a insensatez da recusa, volta a ter um aspecto melhor. Fiz quinze anos e aqui estou eu: uma debutante em festa esdrúxula posta como banquete para convidados que não chamei. Por isso Diário, hoje escrevo com mãos jovens essas linhas de futuro repleto de incertezas, mas que não esqueceu o sabor dessa idade.

Prisão de Abaetetuba, 06 de novembro, Belém-PA.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

MUDANÇA - LEVI DE FREITAS

Mudança - Levi d'Freitas


Certa vez conheci uma família. Uma família muito unida. Jorginho era o pai, Marta era a mãe. Chiquinho e Luís eram os filhos. Primeiro veio Chiquinho. Oito anos depois, Luís. Quando Chiquinho completou dezoito anos de idade, resolveu ir embora. E foi aquela lamúria! Todos tentando dissuadi-lo, mostrando-lhe o que queriam que ele fizesse.
Não era casado, Não tinha filhos. Nem namorada tinha! Queria mesmo era sair da convivência paterno-materna. Queria liberdade. Sair quando quisesse, entrar quando desse vontade. Dormir... Ah! Anseava por esse momento!
Sonhava com a despedida! Planejava a mudança! Primeiro, iria aquela estante velha aonde ele põe alguns livros de poesia (essa era sua maior distração). Em seguida, aqueles restos mortais de guarda-roupa e tudo o mais que tiver dentro dele. Por último, levaria o seu trono sagrado, o castelo encantado de seu reino: a cama própria.
Acoaram-no diversas vezes. Tentaram de diversos modos fazê-lo mudar de idéia. Tudo em vão.
Enfim chegou o grande dia. Tudo já havia sido transportado. Restava apenas o jovem Francisco (mudara de chamamento!) com uma pequena maleta na mão direita. Iniciaram-se então as despedidas.
Copiosas lágrimas corriam pelo rosto de sua mãe. Ouvia-se o pranto de seu irmão a uma boa distância. Seu pai, até seu pai, um cara durão, pôs-se a ranger os dentes. E Francisco também chorou. Abraçaram-se, os quatro, e choraram juntos. Tentaram, então, Jorginho, Marta e Luís, pegar Francisco por seu calcanhar. Em meio à emoção, lançaram suas últimas fichas na tentativa de mantê-lo em casa. Novamente, sem surtir efeito.
Despediu-se. Partiu. Não olhou para trás (sabia o que veria). E mudou-se para a casa ao lado.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

MENINAS RICAS - ROSA CONCEIÇÃO


Meninas ricas - Rosa Conceição


Ela chega quase perfeita... Ela acha que está perfeita; parece vir de uma fôrma.
Sandália quase um palmo, toda ajustada; a cor da mochila, com traços da roupa. Ela sabe combinar tudo, aliás, ela pensa que sabe. Com roupa de marca, roupa da moda, encanta quem por ela passa. Há aquela que combina perfeitamente, enquanto outras... Coitadas, vestem roupas caras, tão cobiçadas, mas que no corpo fica um ‘saco’. Uma palhaça? É... Mas pensa que está no auge.
Meninas ricas. São meninas que “tudo” têm, mas... Nada têm. Falta nelas uma identificação, uma valorização. Acham que usando roupas caras, participando da sociedade consumista, serão vista e valorizadas.
Meu Deus! Quanta burrice... E tem gente que as vê de uma forma especial, por serem meninas ricas.
Pobres meninas ricas...

UMA MANHÃ - ROSA CONCEIÇÃO


Uma manhã - Rosa Conceição


Tudo começou às cinco horas: pancada aqui, pancada ali; um ruído infernal, uma pancadaria inimaginável. O sono, o sono é indescritível, aquele que lhe deixa sem raciocínio, que lhe faz abrir a boca, que te pede para ficar mais um pouco.
Levantar... Ah! É preciso levantar. Há um banheiro, com água não tanto gelada, mas que ao cair no corpo dá um sinal...Já estou acordada! Meu Deus ! Preciso sair do banheiro, as atividades me esperam.
O mais demorado mesmo é escolher a roupa: essa, aquela... Já são seis horas e a roupa ainda por escolher. Termino pegando a primeira, pois o tempo não me permite procurar mais. É preciso tomar café, mas e o tempo? Não dá para comer direito, pego uma fruta. Comer uma fruta é bem mais rápido.
Deu seis e quinze, é hora de pegar o ônibus. Pegar o ônibus? Pegar ou apanhar? Prefiro dizer ‘pegar’, essa coisa de gramática é mesmo complicada.
A pista é ‘infinita’, muitos carros, muitos ônibus, mas e o meu? Passaram alguns mas iam tão lotados que não arrisquei entrar; talvez eu fosse esmagada, talvez não, prefiro não arriscar. Essa coisa de ônibus...
Quê? São seis e vinte! A pressa aumente e termino ‘pegando’ o primeiro ônibus depois de tanto esperar. O ônibus nem estava tão lotado mas as minhas mãos iam tão ocupadas que quase caí. Imaginem se tivesse lotado! Quinze minutos para o terminal, só quinze minutos... Imaginem se fosse mais distante, meu Deus, o desespero seria grande. Em fim no terminal... Graças!!! Estou quase no local final, ah! Não se espantem, estou falando do local de estágio. É... Sou uma estagiária.
Mais um ônibus e em cinco minutos estarei lá. Um... Enfim, no prédio, a porta já abriu, o responsável chegou mais cedo hoje, três pessoas haviam chegado; somos 15, eu fui a quarta a chegar, sempre chego mais cedo, geralmente 15 minutos antes. Os outros estagiários começaram a chegar, alguns até atrasados, coitados, moram tão longe! Precisam acordar tão cedo que chegam abrindo a boca, até parecem meninos sem dono. É, mas todos têm dono, é que essa coisa de estudante... Mas como seria o mundo sem estudantes???
Agora estamos na sala, 15 computadores, 15 estagiários; uma integração tão grande, coisa de estudante... Os telefones tocam com uma certa pausa, deixando todo mundo sonolento. Um cai ali, outro cai aqui, mas todos sabem a responsabilidade de estar aqui. É preciso despertar, o telefone é o sinal de que estamos em atividade e pode tocar a qualquer momento.
Pausa para lanche, paus... Mas como, 'pausa para o lanche'? Nem chegamos, aliás, chegamos, mas a hora mesmo é de marcar o intervalo de cada um: um vai, outro vem, e, de uma forma cronometrada, todos lancham. O toque continua com alguns intervalos para banheiro e tomar água. Ninguém esquece as brincadeiras, elas são uma forma de esquecer o tempo e chegar a hora de voltar para casa.
Continuamos em frente a esta máquina... Mas o que seria de nós se não fosse ela, afinal, temos de dar as informações precisas a cada manhã...