domingo, 26 de outubro de 2008

A FUGA

Meu coração, aquele bandido,
está foragido.
Fez estragos, disse coisas.
Deixou-me agora sem sentido.
Percebo, porém,
algo que me fora dito:
Foi embora por ser mal,
ou, por ser ele assim, não teria partido?
Ou merece atenção o fato
de ser dele bem sabido:
que eu sou um alguém tão chato
que nem o pior me haveria merecido?
Ora, cante comigo, au revoir!
Ninguém é obrigado a me suportar.
Fique onde está, volte se quiser.
Minhas emoções, deixei nas mãos de uma mulher.
Se ela não quis, azar.
Eu é que não vou me preocupar.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

CAI O PANO - CARLOS EDUARDO SAMPAIO

A matemática é bem simples: no início seriam, teoricamente, treze alunos iniciantes do curso de comunicação, licenciado em jornalismo, que criaram um blog e escreveriam para esse blog. Destes treze, somente cinco escreveram; três até bem pouco tempo atrás ainda o faziam; dois ainda lêem, mas só um comenta. O outro anteviu a hora agonizante e ficou responsável por colocar o post mortem.

Que fique registrado: não se escrevia com o objetivo de se sentir bem, expressar idéias e dialogar com o mundo através delas. Escrevia-se para receber comentários; e o que é ainda pior, cobrar por comentários; e aquele simpático professor se esforçava por conciliar seu escasso tempo de docente em ler esses aspirantes a escritores e /ou jornalistas.

Este texto não é uma sobrevida; é antes, a constatação do fim.

Já não há mais idéia, já não há mais desejo, já não há mais satisfação...

Já não há mais tinta...

domingo, 11 de maio de 2008

COLOCANDO OS PINGOS NOS ÍPSLONS ( OU A ILUSÃO OBJETOCOR) - CARLOS EDUARDO SAMPAIO

Passei minha vida inteira pensando que Informática era o que eu queria cursar. Depois que estava lá, percebi o quanto ainda me sinto confuso (e olha que já estou com quase 30) em escolher uma carreira profissional. Acontece assim mesmo: de repente desisto de tudo. Outras coisas começam a me interessar e deixo o que fazia pela metade para me dedicar ao meu novo interesse. Atualmente estou trabalhando na idéia de fazer jornalismo. Algumas disciplinas do curso me estimulam bastante. Fotojornalismo, por exemplo, foi uma das coisas que povoou minha cabeça por algum período. Mas como tantas outras coisas que fiz na vida, será outro tiro no escuro. É esperar para ver. Tenho que estimular uma coisa que na realidade tenho muita preguiça de fazer: escrever. No mais, me agrada a quantidade de conhecimento que o curso me proporcionará. Acredito que entro nessa por puro idealismo. O ideal e estereótipo dos jornalistas consagrados! Como se a vida deles fossem sempre de aventuras interessantes. Pobre coitado! Desespero por algo de emocionante sempre nos tende a fantasiar a realidade.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Matrimônio (Sem plural) - Levi de Freitas

MATRIMÔNIO (SEM PLURAL) - Levi d'Freitas

Tomei por esposa minha solidão.

Dela só largo se me tomarem pela mão

e me conduzirem à outra estação,

aonde eu não mande mais em meu coração.

Ou, alternativa,

esta, mais sem sentido:

seria fazer-me viver de novo a vida,

porém sem me ter dado por entendido

tudo que descubro sem querer,

querendo apenas descobrir

que estive sempre errado ao me fazer

errar para não atingir.

Tomei por esposa minha agonia.

Esta, agora, é minha filosofia:

sem amores, sem rancores.

Sem dúvidas, sem temores.

Sem dores

ou problemas sem final.

Sem ditadores

ou palavras no plural.

ATÉ QUANDO? - JANAÍNA BANDEIRA

Sábado, 29 de março de 2008. Uma linda garotinha de cinco anos passeia por um supermercado de Guarulhos com seu pai, irmãos e a madrasta. Isabela Nardoni não sabe que dali a algumas horas vai ser vítima de um ato brutal. Daquilo que chamo de “monstruosidade humana”.

O que pode levar uma pessoa a cometer tal ato? Estou até agora me perguntando isso sem, no entanto, encontrar uma resposta. A polícia se sente pressionada pela população que já não agüenta mais esse tipo de coisa. A mãe pede justiça. O pai e a madrasta se declaram inocentes. O avô desabafa: “Meu filho não é um monstro!” E eu grito: “Meu Deus! Que mundo é esse que meus filhos estão crescendo?” O que será que aconteceu naquela noite dentro do apartamento de Alexandre Nardoni? Por que espancaram uma garota sem que ela tivesse a mínima chance de defesa? Alguém já parou pra pensar o quanto ela sofreu? Quanta dor deve ter sentido... Teve um corte na testa, um pulso fraturado, foi estrangulada, a bacia quebrada, além de outras lesões! Eu nem consigo mais dormir pensando nisso. Sei que assistimos a coisas horríveis todos os dias pela televisão, mas esse caso em particular me chocou profundamente. Minha filha de quatro anos agora tem medo de ficar sozinha no quarto. Ela disse que tem medo de um homem aparecer e jogá-la pela janela...

Eu queria saber se isso é a evolução humana. Se for, para que evoluímos? Para destruirmos sonhos? Para destroçarmos famílias? Para que? Alguém sabe me dizer? Espero, sinceramente, que os verdadeiros culpados sejam encontrados e punidos. Na verdade, acho que merecem passar pelo mesmo que fizeram a essa garotinha. Não! Assim mostraríamos mais uma vez que ainda não evoluímos...

sábado, 8 de março de 2008

ESSÊNCIA - LUIZA MATOS

Que fraqueza que nada! Gostamos é de força, de luta! Acomodadamente esperamos a transformação. Mas que mentira! Somos a revolução!
Quanta gentileza, obrigada. Mas quanto me custou esse agrado? Nunca és gratuito.
Imperceptíveis? Jamais. Ainda que com um suave perfume, absorvemos todo o ar.
Mas que sorriso é esse? O que eu falei? Ah, entendi! Olhou o que não consigo enxergar por causa da minha mania de perfeição. Mas é claro, estava explicito, agora sei, não era algo novo, sou a mesma.
Quer me cuidar? Mas faça direito. Um deslize e não terás como se proteger. Somos caprichosamente maquiavélicas.
Não esqueças de lembrar o que todos os dias, ainda que com certa confiança, me pergunto. Não fale somente com os olhos, balbucie seus sentimentos, os mais encantadores, que são atribuídos a mim.
Não me esqueceste por nenhum dia? É, eu já sabia. Gosto e faço com que eu tenha o domínio controlado de cada pedaço teu. Sou delicada, mas não se engane. Posso sempre surpreender, afinal, sou mulher.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A DESATENÇÃO - LEVI DE FREITAS

A desatenção – Levi d’Freitas

No livro “O que é comunicação”, Juan Dìaz Bordenave trata o ato de comunicar como sendo de serventia “para as pessoas se relacionarem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que as rodeia”.
Ainda no supracitado livro, Juan Dìaz apresenta os elementos básicos da comunicação como sendo: a situação; os interlocutores; a mensagem; os signos; os meios. Contudo, sabe-se que, uma vez enviada, a mensagem pode sofrer distúrbios que a impedem de chegar a seu destino da forma que gostaria o emissor, ou seja, preservadas suas características. A estes distúrbios, damos o nome de ruído. Trataremos, agora, de um em especial: a desatenção.
De modo geral, a desatenção vem a ser um desligamento temporário de um dos interlocutores, durante um processo de comunicação, devido a fatores externos, tais como desinteresse no ato de comunicar, desentendimento dos signos, súbita percepção de apelo comunicacional mais atrativo que o anterior no qual estava envolvido, dentre outros.
Ao ato de comunicar, poder-se-ia atribuir, ilustrativamente, uma espécie de “contrato de transmissão de mensagem”. Desta forma, ao envolver-se em um ato comunicacional, o(s) interlocutor(es) apresenta-se disposto a receber e emitir mensagens. Ao ceder aos fatores influenciáveis à desatenção, estaria ferindo este subjetivo “contrato”.
Sendo a comunicação, análogamente falando, como uma “caixa de Skinner”, na qual, ao tocar na barra, que seria o figurativo “contrato de transmissão de mensagem”, o sujeito interlocutor que, subjetivamente, gera a situação de comunicação, ao mostrar-se desatento, fere o princípio de “ação e reação”, uma vez que também há um “outro lado da história”, que aguarda as condições ideais e os elementos básicos da comunicação em harmonia para haver transmissão de mensagem com sucesso. Fere, pois, o princípio básico da comunicação.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

DIÁRIO DE QUINTA - LEVI DE FREITAS

Diário de Quinta - Levi d'Freitas

Era pra ser só mais uma típica quinta-feira. Acordo cansado, sozinho e atrasado. Reunião de negócios, sabe como é que é: provar ao chefe que vale a pena pagar por seu serviço invisível... Creio não interessar a você meus métodos de persuasão, além de quê, não desperdiçarei meu tempo e minhas linhas com bobagem. Resumo então minha manhã na cena em que meu pai vai com, literalmente, tanta sede ao almoço, que leva consigo um copo daqueles de estimação, clássico, com nome e tudo, ao invés da convencional dupla (ou trio, vá lá!) talheres-prato fundo de vidro. Como se ele pudesse beber o arroz, né... Balanço a cabeça e me volto aos afazeres. O dia estava apenas começando! (É que meu dia tem trinta horas...)
Á tardinha, compromisso marcado com cliente. Tinha de desdobrar um vendedor em 30
minutos e correr para a faculdade. Chego na hora (uma vez acontece da gente não se atrasar...) e aguardo. Meia-hora depois, (conveniente, não?!) a mocinha (nem tããão mocinha...Tá bom, uma tia de seus cinqüenta e poucos...) me informa que a reunião fora remarcada para dali a uma hora. Que pena, em uma hora eu já estava em sala de aula, entregando trabalho escrito e tudo. Mantive a calma, respirei fundo, sorri, dei boa-tarde e meia-volta. Não fazem mais secretárias como antigamente! (Tupo pode acontecer, menos eu perder a oportunidade deste trocadilho...)
Também não falarei de aulas. Chega por hoje! Já passa de uma hora da madrugada. Falarei do final da aula, apenas. Enquanto dividia, durante leitura de texto, meu livro com 'A' morena (ela lia as linhas do livro enquanto eu lia as curvas de suas cruzadas de pernas), recebo uma ligação. Cortou todo meu barato, mas quem sabe fossem boas notícias... Não, não eram. Meu primo, oferecendo carona para voltar para casa (é, além de universitário, não possuo transporte próprio. Quem quiser me dar uma ajudinha financeira, meu endereço está logo abaixo deste escrito). Naquele momento, sem chance. Eu estava em uma altamente empolgante aula (a morena estava me tirando do sério! Que morena, meu Deus!). Disse a ele que podia seguir em seu super-carro de alguns milhares de reais que eu iria embora sozinho mesmo, dali a alguns minutos, de condução coletiva.
Sabe, o ônibus é algo tão coletivo que até o azar é compartilhado, dentro dele. Imagine: meia centena de pessoas fatigadas de um dia corrido, todas declaradamente esfomeadas e sonhando pôr os pés em casa. Agora, veja na cena seguinte, esta mesma meia-multidão esbravejando no meio da rua contra o ônibus que encerra seu trajeto por “problemas técnicos”, em um lugarzinho no meio do nada, de referências policiais diárias... (E sem cobertura fixa dos homens da lei, diga-se de passagem. Socorro!) Ah, vidinha famigeradamente irônica!
Ora, claro que pensei em tomar uma atitude! Na verdade, pensei em várias soluções para aquele problema iminente. O fato é que não me deixaram agir quando eu queria. Pensei em tomar outra condução, um táxi, por exemplo. Nisto, porém, ouço fantasmagórica risada. Era minha carteira, avisando que eu só possuía o dinheiro do jantar e teria de ficar ali, esperando o carro reserva da empresa de transporte público. Então, ouço outra risada, esta mais estridente. Era o relógio, avisando que em alguns minutos todos os estabelecimentos comerciais próximos estariam fechados e eu provavelmente não conseguiria comprar nada para comer. Pensei em sair andando, ver se achava algum lugar para saciar a fome. Quando dei os primeiros passos me distanciando das pessoas, rumo ao desconhecido que era aquele lugar aparentemente deserto, ouço uma gargalhada grave e sutil. Era meu livro, fiel companheiro, lembrando que ele era minha única arma naquele momento. Resolvi então ligar para casa e orientar alguém a me fazer esta caridade: comprem meu jantar, pelo amor de Deus! Além, claro, de avisar que iria chegar tarde, a fim de não deixar ninguém preocupado. Bom, pelo menos ninguém estava preocupado comigo, pois o telefonema não foi atendido. Nisto, o celular em minha mão fez ouvir sua risada desesperadora a léguas. Ainda não entendi o que ele queria me avisar ou me lembrar. Só que não esqueci seu tom de zombaria...
Já no auge do desânimo e bem próximo do desespero, vislumbro a chegada do carro de socorro, que leva-nos a nossos destinos.

Desço alguns quarteirões antes de casa. Passo no (ainda funcionando, graças a Deus) supermercado. Segundo a voz do microfone, tenho 15 minutos para efetuar minhas compras antes que tudo feche. Tudo bem. Pego bolachas e um sabonete (eu estava com um cheirinho natural tão natural que já não estava suportando... Mesmo não sendo ‘dia de banho’, um cairia muito bem...). Ao chegar ao caixa, o rapaz recusa-se a me atender (após eu esperar por um senhor que estava à minha frente por uns cinco minutos), alegando ter ‘passado da hora’. Pudera! Meu relógio mostra estar faltando cinco minutos para a meia-noite, horário de fechamento do recinto. Ele, porém, afirma que ‘o sistema’ é que parou. Tudo bem, não é meu dia mesmo. Vou a outra fila. Quinze minutos nela e eu era enfim atendido. Já sentia o sabor do sabonete mergulhado nas bolachas misturados com minha saliva (eca! O que a fome não faz, hein...). Enfim, chego em casa. Como as bolachas (sem sabonete!), tomo um bom banho (com sabonete!). E vou dormir. Cansado, sozinho e atrasado. Já são duas horas da madrugada! Isto são horas, menino! E amanhã, ah, amanhã vai ser outro dia.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

ESTRANHAMENTO FAMILIAR - LEVI DE FREITAS

Estranhamento familiar - Levi d'Freitas



Com um profundo suspiro, acorda atordoado. Revira os bolsos como que à procura de algo que não sabe o que é. Lava o rosto. Senta-se à cadeira ao lado da cama. Ergue os olhos e percebe aquele que será o pivô de seu tormento por alguns instantes.

- Mas, que diabos é isto?

À sua frente, imperiosa, uma caixa escura. Formato quadrilátero, alguns botões.

-O que esta coisa está fazendo aqui?

Segue em direção à peça. Curioso, toca-lhe os botões, o que resulta no acionamento dos mecanismos do estranho instrumento. Neste momento, luzes acendem, iluminando o escuro recinto. Assusta-se ao ver e ouvir rostos e vozes desconhecidos.

-Com quem estão falando? Comigo!? Saiam daí para conversarmos!

Em vão tocou aquela mística tela, quando buscava sentir a rosada face da bela moça que falava de dentro da agora colorida caixa imponente, que mais parecia um ídolo religioso, dado seu posicionamento estrategicamente ao centro do quarto.

-Ora, parem de falar e me ouçam!

Irritado, apertava os botões e espantava-se cada vez mais com a velocidade com que pessoas iam e vinham. E assim, ouviu (e viu) um saliente homem dizer:

“-Bem vindos ao mundo da televisão!”

Ao que pensou:

-Ora, de que me serve estar em um mundo que vejo, ouço, mas no qual não tenho vez nem voz, com o qual não interajo? Este é teu fim, caixa mágica!

E puxou o fio da tomada.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O JULGAMENTO(Continuação...) - CARLOS EDUARDO SAMPAIO

Diante daquelas últimas palavras, o tribunal não se conteve: pessoas ligadas ao réu, levantaram gritando que aquilo era um absurdo para nossa época; que por muito mais do que isso gente muito mais nociva à sociedade tinha sido condenada a uma pena mais leve. Até o juiz Metelo Nepos inclinou-se para frente para ter certeza de que ouvira bem aquelas palavras. Para o réu Lucius Emilio Vespasiano tudo parecia não fazer mais sentido: fora a cor que desaparecera por completo do seu rosto, a sala ficara de repente silenciosa; o tempo tornou-se mais vagaroso e as idéias vinham agora de ecos que ressoavam na sua cabeça e sumiam sem deixar qualquer sinal de presença. Não conseguia dar seqüência a nenhum pensamento lógico; quando uma idéia dá sentido a outra anterior e assim por diante. Nada! Lucius Emilio era uma pessoa ainda relativamente jovem. Ainda cedo entraria para uma agremiação de jovens literatos na sua cidade natal de Tresímeno. A turma dessa agremiação não parava de escandalizar a gente simples daquela cidade com todos os tipos de excessos. Bebidas, defloração de menores, rituais pagãos; se consideravam mesmo epicuristas e levavam a fundo todos os preceitos desse velho filósofo grego. Contudo, achava normal todos aqueles atos e legítima a vontade de chocar o mundo com seu péssimo gosto de jovem vaidoso e pomposo. Seus versos eram repudiados por todos os senhores que tivessem um bom discernimento dentre os inúmeros e variados tipos de literatura produzida na cidade de Tresímeno. Mas o julgamento desses perfeitos idiotas da velha escola Cicerana, não significava nada para ele e seu obscuro propósito de ver seus textos brilhando nas grandes revistas da capital Hélos...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O JULGAMENTO - CARLOS EDUARDO SAMPAIO

E então o barulho do martelo descendo por três vezes naquele pedaço de madeira retangular, fez-se imponente; uma voz grave e firme ecoou com força pela sala, chegando de fato a estabelecer um significativo silêncio.

- Queira o advogado de acusação continuar a sua linha de raciocínio – falou o juiz Metelo Nepos, já bastante irritado com a interferência de alguns mais exaltados.

- Como eu ia dizendo Meritíssimo antes de ser drasticamente interrompido, o réu, que no pavonear típico de seu caráter, na total falta de tato para sua insignificância literária, gaba-se com escritos, que aos olhos de todo mundo, não passam de escritos menores; parco em cultura e idéias. Eu mesmo tenho contato com grandes e notáveis escritores da nossa geração, mas não vi nenhum Meritíssimo, nenhum que se mostrasse tão petulante e arrogante como o réu que aqui está sentado diante de nós. Desvirtuar nossos tão sagrados valores, altivos na sua histórica tradição, é o que pretende o réu quando coloca importância a sentimentos mesquinhos de sua gente e seu povo.

Nesse instante os olhos de impetuosidade do advogado de acusação, se dirigiram para o canto da sala do tribunal onde ficava o júri. O júri era composto pelos mais respeitáveis e aristocráticos exemplares das letras da cidade de Hélos. O advogado de acusação de nome Gaius Julius - também ele um intelectual e respeitável entre seus pares literatos - sabia que para tão honrado júri, era inevitável que seguisse uma linha de acusação que invocasse toda a tradição e o bom gosto tão bem conhecidos e praticados por esses distintos senhores. E continuou na sua hábil explanação:

- Nega diante desses admiráveis senhores que não evocou toda sua vaidade quando escreveste aquele amontoado de palavras, uma atrás da outra, a que chamou de literatura? Negará que abusou de nossa tão sagrada paciência quando publicou, em desatino desvairado de arrivista, textos de duvidoso valor em uma revista importante da nossa cidade? A essa falta de imprudência e a essa falta de autocrítica, que o faz pensar ser melhor do que realmente é eu peço a mais alta pena da nossa jurisprudência: a pena de morte!.....

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

AS CINZAS DO CONFETE - LEVI DE FREITAS

As cinzas do confete - Levi d'Freitas


Acabou-se a serpentina.
O rei momo já se retirou.
A avenida, o sol ilumina,
meu confete acabou.

A música, antes incansável,
onde pois se escondeu?
A alegria de um povo inteiro
guardou-se ou a lua comeu?

Tantos risos, tantos beijos
tudo que tanto bem fazia.
Tantos corpos, tantos seios
onde estãos as fantasias?

Meu Brasil, a quem fazes mal?
tão lisonjeiro a todos acolheu
Passou-se, porém, o carnaval
e quem ficou? Apenas eu.

Vede teu rosto,
empapuçado de folia
Agora, vede teu povo:
à mesa da festa, não comia.

E acabou-se mais um carnaval.
E a alegria?
Cingida por cinzas, chegou ao final.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O APRENDIZ - LEVI DE FREITAS

*PARENTAL ADVISORY:

Não me responsabilizo pelo choque que possa causar este texto. Publico-o a pedidos, apenas. Tenebroso sei que é. Chocante também. Quem possuir ainda inocência e pureza em seu coração, afaste-se dele. Leia os outros textos que aqui figuram.


"Sem amores, sem rancores. Sem dúvidas e sem temores."



O APRENDIZ (OU ODE AO NÃO-AMOR) - LEVI D'FREITAS

O amor não existe. É pura ilusão.

Amor só de pai e mãe. De Deus, a compaixão.

Este foi na vida teu mais difícil aprendizado:

Nunca diga 'eu te amo', um dia você vai ser acusado

De ter dito a frase errada para a pessoa certa

Aquela que vai fechar a porta quer você deixou aberta.

Vai sair e dar adeus, vai te ferir de morte.

Mas você só vai morrer se tiver muita sorte.

Vai te fazer beber para esquecer a solidão.

Vai transformar em cinzas de cigarro cada pedaço
Do teu coração.



De uma mesa de um bar qualquer... Com um copo de cerveja na mão. Ao lado, jazem os que não resistiram aos efeitos do álcool. Da boca de quem vos escreve ouviu-se o que hoje é esta poesia.

Da dor, brotou a minha flor.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

SAUDADES... - JANAÍNA BANDEIRA

Saudades de você, meu amigo. Tanta coisa que passamos juntos, né? Lembro quando você chegou lá em casa, tão pequenino e alegre. Mudou nossa vida, principalmente a da Fernandinha, que era apaixonada por você. Passou férias na praia, com todas as regalias possíveis, chegando até a comer churrasco e roubar os sanduíches das crianças. Levava uma bronca, mas depois vinha me lamber com a cara mais lavada do mundo. Desceu as dunas correndo atrás dos meninos que deslizavam de esquibunda... Saudades daquele tempo...
Hoje já temos um novo membro na família, mas o sonho de consumo dela é um gatinho. Deus me livre! Quem tem gato passa a ser escravo dele. Nunca será amigo como o cachorro. Deixa só seu vizinho oferecer um prato de guloseimas pra ver o que ele faz com você. Certamente lhe virará as costas e partirá em busca do "desejo proibido". Dia desses estava arrumando os brinquedos das crianças e encontrei seu lobinho de borracha, aquele seu brinquedinho predileto. Como chorei... Lembrei de tudo que você significou para a minha família. Lembrei do dia em que não pude mais cuidar de você por me descobrir grávida e com grande risco de contrair toxoplasmose. Acho que sua tristeza foi tão grande, que depois disso adoeceu de forma violenta e nos deixou. Sinto sua falta, Bob. Queria poder sentir mais uma vez sua lambida sem vergonha... Nem que fosse só mais uma vez...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

FAVORECIMENTO ILÍCITO (PARTE I) - LEVI DE FREITAS

FAVORECIMENTO ILÍCITO - LEVI D'FREITAS

Passo apressado por entre as sacoleiras e boxes abarrotados de réplicas de marcas famosas. Ao encalço, o primo do interior.

-Esta calça está boa! Quanto custa?

-20 reais, amigo – responde o homem de meia-idade, demonstrando interesse naquela venda.

-Não está bom o preço. Vi mais à frente modelo semelhante a 17 reais. – Intervenho, a fim de facilitar a economia de meu parente.

-A este seu preço não posso vender.

Cerra a face e nos vira as costas.

-Ora! Este lugar está cheio de vendedores mais simpáticos e flexíveis. Caminhemos, meu primo! Você vai voltar com as sacolas cheias para sua cidade!

Passamos a manhã a rodar a praça e encher sacolas que farão a alegria de muitos na cidadezinha de onde viera o meu amigo.

-São os presentes de Natal. – dizia.

Ao fim da manhã, ponho-o no ônibus que o levou para casa. Radiante estava, pois aprendera a arte da ‘pechincha’...

-Aprendera com um profissional! – gabava-me.

Telefono para casa e aviso todos: o primo já retornara ao seu lar.

-Mamãe, ficarei mais um pouco por aqui. Tenho negócios a resolver.

Ora, quem me dera ter retornado no ônibus que passara logo em seguida... O ônibus em que pus aquela velhinha que estava na parada, juntamente com sua muamba que encheria duas vagas em um trem...

-Obrigada, meu filho! Deus lhe abençoe! – agradeceu-me a senhora de idade avançada, ao sentar-se apoiando em meus braços e na velha bengala. Em seguida, aos seus pés, pus as pesadíssimas sacolas que ainda não entendi como ela conseguira carregar até a parada seletiva dos veículos comunitários.

Retorno ao que chamei de ‘reino do comércio alternativo’. Lá chegando, uma ligação:

-Irmão, estou por aqui também. Encontre-me na loja de esportes, vamos fazer negócios juntos esta tarde!

Passar a tarde fazendo compras com ele, no meio do ‘mercado alternativo’, sempre foi ótimo, desde a infância. Adorávamos baixar os preços das mercadorias na base da algazarra, e muitas vezes alegar falta de verba e sair rindo dos pobres que contavam com aquela venda. Ah, tempo bom em que eu conseguia me sobressair em relação aos outros... Tempo em que eu era ‘o’ comerciante...

-Querido irmão, quero comprar telefones celulares de forma não-convencional...

-Aonde você quer ir? – questiona-me, apesar de estar entendendo, no que sorri no canto da boca, já demonstrando a velha inclinação para a malemolente falação que iríamos ter com os vendedores a tarde inteira...

-Vamos ao ‘reino do comércio ilícito’, meu irmão!

[ CONTINUA. OU NÃO... O FINAL, VOCÊ DECIDE! ]

[ USEM OS COMENTÁRIOS PARA SOLICITAR A PARTE II DESTE CONTO. SOMENTE COM 10 (DEZ) POSTAGENS A CONTINUAÇÃO SERÁ LIBERADA PELO AUTOR. ]