sábado, 9 de fevereiro de 2008

O JULGAMENTO - CARLOS EDUARDO SAMPAIO

E então o barulho do martelo descendo por três vezes naquele pedaço de madeira retangular, fez-se imponente; uma voz grave e firme ecoou com força pela sala, chegando de fato a estabelecer um significativo silêncio.

- Queira o advogado de acusação continuar a sua linha de raciocínio – falou o juiz Metelo Nepos, já bastante irritado com a interferência de alguns mais exaltados.

- Como eu ia dizendo Meritíssimo antes de ser drasticamente interrompido, o réu, que no pavonear típico de seu caráter, na total falta de tato para sua insignificância literária, gaba-se com escritos, que aos olhos de todo mundo, não passam de escritos menores; parco em cultura e idéias. Eu mesmo tenho contato com grandes e notáveis escritores da nossa geração, mas não vi nenhum Meritíssimo, nenhum que se mostrasse tão petulante e arrogante como o réu que aqui está sentado diante de nós. Desvirtuar nossos tão sagrados valores, altivos na sua histórica tradição, é o que pretende o réu quando coloca importância a sentimentos mesquinhos de sua gente e seu povo.

Nesse instante os olhos de impetuosidade do advogado de acusação, se dirigiram para o canto da sala do tribunal onde ficava o júri. O júri era composto pelos mais respeitáveis e aristocráticos exemplares das letras da cidade de Hélos. O advogado de acusação de nome Gaius Julius - também ele um intelectual e respeitável entre seus pares literatos - sabia que para tão honrado júri, era inevitável que seguisse uma linha de acusação que invocasse toda a tradição e o bom gosto tão bem conhecidos e praticados por esses distintos senhores. E continuou na sua hábil explanação:

- Nega diante desses admiráveis senhores que não evocou toda sua vaidade quando escreveste aquele amontoado de palavras, uma atrás da outra, a que chamou de literatura? Negará que abusou de nossa tão sagrada paciência quando publicou, em desatino desvairado de arrivista, textos de duvidoso valor em uma revista importante da nossa cidade? A essa falta de imprudência e a essa falta de autocrítica, que o faz pensar ser melhor do que realmente é eu peço a mais alta pena da nossa jurisprudência: a pena de morte!.....

Um comentário:

Escritos do Sol e da Lua disse...

Show, camarada. Não deixe esse espaço morrer. Convoque outros colegas. Isso aqui vai ser ouro puro em pouco tempo.
abraço
LG Capaverde