terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

ESTRANHAMENTO FAMILIAR - LEVI DE FREITAS

Estranhamento familiar - Levi d'Freitas



Com um profundo suspiro, acorda atordoado. Revira os bolsos como que à procura de algo que não sabe o que é. Lava o rosto. Senta-se à cadeira ao lado da cama. Ergue os olhos e percebe aquele que será o pivô de seu tormento por alguns instantes.

- Mas, que diabos é isto?

À sua frente, imperiosa, uma caixa escura. Formato quadrilátero, alguns botões.

-O que esta coisa está fazendo aqui?

Segue em direção à peça. Curioso, toca-lhe os botões, o que resulta no acionamento dos mecanismos do estranho instrumento. Neste momento, luzes acendem, iluminando o escuro recinto. Assusta-se ao ver e ouvir rostos e vozes desconhecidos.

-Com quem estão falando? Comigo!? Saiam daí para conversarmos!

Em vão tocou aquela mística tela, quando buscava sentir a rosada face da bela moça que falava de dentro da agora colorida caixa imponente, que mais parecia um ídolo religioso, dado seu posicionamento estrategicamente ao centro do quarto.

-Ora, parem de falar e me ouçam!

Irritado, apertava os botões e espantava-se cada vez mais com a velocidade com que pessoas iam e vinham. E assim, ouviu (e viu) um saliente homem dizer:

“-Bem vindos ao mundo da televisão!”

Ao que pensou:

-Ora, de que me serve estar em um mundo que vejo, ouço, mas no qual não tenho vez nem voz, com o qual não interajo? Este é teu fim, caixa mágica!

E puxou o fio da tomada.

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