A DOR DOS CABELOS BRANCOS - JANAÍNA BANDEIRA

A dor dos cabelos brancos – Janaína Bandeira

Ontem estive no Lar Torres de Melo e pude ter uma das mais belas e tristes experiências da minha vida. Bela por conhecer pessoas tão doces e carentes. Triste por ver estampado em seus rostos, a dor do esquecimento.

A partir da próxima semana começarei meu trabalho como voluntária oficial. Na verdade, há tempos espero a oportunidade de me engajar em um projeto desse tipo, chegando inclusive a fazer cadastros em sites na Internet. Até então, todas as vezes que entraram em contato comigo, era pedindo doações em dinheiro. Não é dessa forma que quero doar. Não é dinheiro. Quero me doar. Quero fazer a diferença num mundo onde as pessoas só pensam no próprio umbigo. Doar meu tempo, meu amor, minha atenção àquelas pessoas tão carentes de tudo isso...

Bem, conheci todo o Lar. Nunca dei tanto “boa tarde” na minha vida. Mas foi “boa tarde” mesmo. Com vontade que fosse a melhor tarde do mundo pra mim. E foi. Jamais vou esquecer esse primeiro contato. Os olhos que me sorriram, pela alegria de ter alguém com quem conversar. As bocas, a maioria já sem dentes, me falaram palavras doces: “Seja bem vinda”. Nossa! Como me senti bem. Como me senti gente...

Eles se sentem desprezados pela família, que há muito não aparece para vê-los. A assistente social me disse que raríssimos são os parentes que vêm visitá-los (uma vez a cada dois anos). Eu gostaria de saber o que esses infelizes pensam da vida. Certamente acham que nunca vão envelhecer. O abandono é uma coisa muito dolorosa e que causa grande sofrimento para os idosos. Eles não são esquecidos só pela família... são esquecidos também, e principalmente, pela sociedade. Muitos nem imaginam a situação desses pobres velhinhos, que mendigam atenção e amor das mesmas pessoas que viram as costas para a dura realidade do descaso e abandono. Descruze seus braços! Faça sua parte! Eles têm pressa!