terça-feira, 27 de novembro de 2007

INEVITÁVEL PENSAMENTO - LUIZA MACHADO

INEVITÁVEL PENSAMENTO - LUIZA MACHADO

O tempo passa realmente rápido!
Então, quero descobrir o que é bom enquanto há tempo.
Continuar a reclamar, mas aproveitar mais os acontecimentos.
Dirigir mais, cantar alto, me deixar descabelar, tirar mil fotos por dia. Mas tudo isso, se houver sorriso sem vergonha, sem vergonha de ser feio ou torto. Vou envelhecer. E então pensarei no que vivi. Será que vou ver o tempo escorrer pelos pés e me deixar com água na boca de quando podia ter curtido mais os momentos? Será que vou ter a mesma sensação de quando olho a minha mãe e penso: cansada, essa menina linda.
Como eu queria ter visto seu corpo jovem desfilando pelas ruas da cidadezinha e ela a conversar com os conhecidos. Será que ousava ou se reservava? Do jeito que é, devia ser como minha irmã, amar viver. Mas e depois? Por que hoje não ver muitos motivos pra se valorizar? Perdeu o gosto por si?
Eu não quero chegar na fase do “tanto faz”. Ter mais um amigo: “tanto faz”. Ir ao cinema: “tanto faz”. Escrever: para que? O que penso já, já passa. Isso é não quero, não aceito!
Temos que aperfeiçoar nossos gostos. Explorarmos nossas qualidades. Não maquiar os defeitos, eles sempre vão existir. Mas exibi-los menos e descobrirmos mais qualidades. São elas que nos animam.
Certo dia, ia passando pela rua e vi um papel bem amassadinho na ponta da calçada. Ele me atraiu por ter uma cor forte. Nunca havia parado antes por causa de um papel na rua. Não sou daquelas pessoas que encontram dinheiro perdido no chão. Geralmente olho para frente. Mas neste dia eu estava cabisbaixa.
Quando pequei o papel, pouco conservado, fiquei paralisada. Era algo que jamais havia prestado atenção. Deu uma dor no coração e ao mesmo tempo uma vontade de descobrir as coisas do mundo. As cidades. Os lagos. Andar a cavalo. Correr até a maré mais próxima. Não importava se eu ia fazer algo que já tinha vontade de repetir ou que sempre sonhei. O principal era viver!
O papel tratava-se de uma foto, do estilo comparativo, feito antes e depois de uma pessoa. Era uma menina muito jovem, aparentemente sozinha. Mas que tinha seu encanto. Parece que existia o desejo de buscar a felicidade total do mundo. Mas do lado dessa foto havia outra dela numa cama de hospital. Quase morta. Embaixo a legenda: Sem coração não há vida. Doe órgãos!
Pensei quanta gente jazida carregava consigo córneas, rins, medulas que poderiam salvar pessoas.
Tantos poderiam dar continuidade à vida, mas não fazem isso. Será egoísmo ou pensamento conservador inútil? Depois que morremos ou a terra cobre nossa beleza, que tanto tentamos valorizar enquanto vivos, ou viramos cinza. Nada mais que isso. Aí termina nosso valor físico, concreto. Deixamos de trazer a alegria, reavivar pessoas. Será que conhecemos o verdadeiro sentido do amor?

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Escritos do Sol e da Lua disse...

Sensibilidade à flor da pele, menina. Mas misturaste temas, e cada um deles podia ser uma crônica.A parte da tua mãe tá maravilhosa, com teus sonhos e os dela misturados... a parte do papel encontrado poderia ser uma outra crônica, mas igualmene muito bom.
Vc é o bicho, menina!!!
Pára não de escrever, viu?
beijo
LG Capaverde