sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O TORMENTO DE MARIANA - JANAÍNA BANDEIRA

O Tormento de Mariana - Janaína Bandeira


A menina observava atônita o pai, completamente embriagado, humilhar sua mãe e gritar com seus irmãos. Ela também não conseguia entender por que ele sempre agia dessa forma, deixando todos amedrontados.

Mariana era a caçula de três irmãos e, mesmo sendo muito pequena, não entendia por que sua mãe não fugia de todo aquele sofrimento. Podiam ir morar em uma fazenda cheia de bichinhos e um açude bem grande, onde poderiam tomar banho e se divertirem a valer. Lá ela não precisaria escutar o choro de sua mãe todas as vezes que seu pai a espancava. Lá ela não teria que ver seus irmãos se levantarem de madrugada para, por ordem do pai, puxarem água da cacimba para que ele pudesse tomar banho e tirar o cheiro que as outras mulheres deixavam em seu corpo. Mas que mulheres? Aquelas que ele arranjava na rua e que quase não o deixavam voltar pra casa. Quantas vezes Mariana desejou em silêncio que elas conseguissem e ele não voltasse mais. Dessa forma não precisaria mais fingir ser feliz. Estaria. De verdade.

Um dia Mariana acordou na casa da avó materna. Finalmente sua mãe dera o grito de liberdade e abandonara seu pai naquela pequenina casa. Seus irmãos, já maiores, contaram tudo pra ela e Mariana festejou dando gritos de felicidade. Sua avó se mostrou carinhosa e acolhedora. Finalmente eles teriam paz. Ledo engano.

O tempo foi passando e Mariana foi crescendo e percebendo melhor as coisas. Sua mãe agora trabalhava e estudava, coisa que antes não podia fazer, pois o marido não permitia. Certo dia conheceu um homem e começou a namorá-lo. Nessa época Mariana já estava com seis anos e, como seus irmãos, não gostava nada do intruso. Sim. Intruso, pois em tudo se metia e dava palpite. Sua mãe começou a ficar cada vez mais ausente e passar noites fora de casa de vez em quando. Sua avó se mostrava cada vez mais grosseira e impaciente. A menina e seus irmãos não entendiam o porquê de tanta rejeição e sofrimento. Por que será que as pessoas sempre faziam questão de entristecê-los e magoá-los?

Sua mãe casou com o tal homem e formou outra família. Mariana e seus irmãos tiveram que sair da casa da avó materna e foram morar na casa dos avós paternos. Ela sempre odiou o sentimento de pena. Era isso que as pessoas sentiam por ela: PENA! “Pobrezinha, coitadinha...” Quantas vezes ela chorou com raiva das pessoas. Tudo o que queria era sumir. Seus avós foram amorosos e atenciosos com os netos, fazendo o possível para suprirem todas as necessidades sentimentais e materiais. Nunca seria a mesma coisa mas, mesmo assim, eles tentaram. Um dia, infelizmente, morreram e ela se sentiu mais uma vez abandonada.

Hoje Mariana é casada e tem sua própria família. Mesmo sabendo que não existe perfeição, ela busca, incansavelmente, o equilíbrio exato necessário para que seus filhos não trilhem o mesmo caminho que ela. Que eles tenham um lar de verdade. Uma família de verdade. Que sejam felizes de VERDADE!

2 comentários:

Luiza Matos disse...

Gostei o jeito como escreveu a sua história, e enfatizou o amor e preocupação por sua mãe!
Gosto como vc escreve, Jana.
Bju.

Carlos Eduardo Sampaio disse...

Um texto que nos faz refletir um pouco nos destinos e preocupações que cada pessoa passa na vida familiar. E com relação ao cachorro, com certeza se falasse, a última coisa que ele iria me chamar era de 'Tio'.rsrsr