segunda-feira, 26 de novembro de 2007

CARLOS EDUARDO SAMPAIO - UM SOPRO

Você bem sabe, há algo dentro de ti que é teu eterno inimigo.
Que te puxas pra baixo, um espírito de gravidade, que te humilha.
- Mas como? Tenho mesmo que curvar sempre no dia seguinte a ele?
Sempre, sempre e sempre. Guardo comigo um pouco desse veneno.
- Ah, quando foi que provei desse infortúnio? Quando me viciei?
A culpa é tua! Alimentares quando te achavas só. Correu para ele.

U Meu refúgio ainda me matará um dia

m Numa noite clara, com escuro propósito.

s Quem sabe uma vaga idéia de vida

o Perto do meu último suspiro,

p Ainda encha meu peito de remorso?

r Ou me alivie nessa minha partida.

o Com o orgulho de uma honra sentida.


Pensemos no corpo. Aparentemente ele se beneficiou
Numa idéia paradoxal do quanto mais se destrói mais acha que viveu
- Mas a vida não é essa dialética? Esse ‘morrer’ a toda hora?
Morremos a cada dia para afirmar a vida.
- Devo ter morrido uns três meses nesses últimos dois dias.

Escrever é para mim a minha mais atual imprudência
Não só me consome como me fragiliza

Aliás, quem de nós dois tem a coragem de dizer o contrário?
De afirmar que isso é um reflexo de uma vaidade supervalorizada?

Queime o que há de mais belo em mim!

Que queime meu inimigo!

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