quinta-feira, 22 de novembro de 2007

HOJE (VAI DAR MERDA) - LEVI DE FREITAS

Hoje (vai dar merda) - Levi d'Freitas


Sabe aqueles dias em que você acorda e diz: "Hoje vai dar merda..."?
Pois é...
Acordei aos tropeços, atrasado (mais uma vez) para o trabalho. Nem lembro se comi alguma coisa, só lembro de ter vestido a camisa ao contrário e ter pegue um cinturão incrivelmente sem noção, dos tempos de adolescência, daqueles com pinta de bandinha de rock, do tipo que você não usa nem nos próprios shows de rock, que insiste em ir escondido dos amigos, pra não dizerem quem você estacionou no tempo e pra não ouvir as piadinhas "-Olá, titio! Foi ver a Xuxa?"
Enfim, vou ao trabalho atrasado, provavelmente com fome (repito, não lembro de ter comido nada!), e escondendo o visual tosco que usava. Minha voz, fraca. Tossia.
Fortaleza é uma cidade incrivelmente quente. Apesar dos ventos fortes, o calor cearense é inquietante. Por conta disso, uma leve mudança de temperatura causa filas enormes nos hospitais. E eu sou um destes, pulmão de algodão. Mudou a temperatura, mudou meu estado de saúde. Ou seja...
Chovia. Quer dizer, choveu. Esperei a chuva passar para sair de casa, olhos inchados de sono, óculos escuro para escondê-los. Dia nublado. Assim seria até o fim.
(...)
Chego em casa fatigado. Que porra de dia! Ah, mas vai melhorar... Já já irei para os braços da minha ruiva... Ah, só ela para transformar meu desespero em calmaria... Só ela para fazer brilhar o sol em meu dia!
Almoço (devoro...) rapidamente, por conta da fome e da pressa. 14:45. Marquei de estar na casa dela às 14:30. Mas ela me conhece. Sabe que eu sou o 'incrível homem atrasado'. Já lhes contei que atraso desde o dia em que nasci? Atrasei dois dias, ao nascer. A festa toda pronta aqui fora, e eu jogando carteado com as tripas de mamãe. Ainda lembro da mão pegajosa daquele ser de vestes alvas me puxando à força para fora, e me dando palmadas no bumbum!
Enfim, saio de casa novamente. Agora, em busca de novos ares!
Vou (de ônibus, mais uma vez... que saco!) à casa da namorada. Não sem antes pagar outro vexame no coletivo... Desta vez, a 'santa carteirinha de estudante emprestada' teimou em ser recusada pelo leitor óptico. Já ouviram que a informática tem pacto com o demo? É fato. Fui obrigado a pagar passagem inteira novamente.
20 minutos mais tarde, chego (vivo e sem grana) e dou um abraço meio sem sal naquela menina de olhos inquietantes. E ela me dá um beijo frio, tão frio, que esqueci aquele dia quente e infernal.
"- Que mulher! "
E me chama para dentro. Estava sozinha. Senta-se no sofá, com ar cansado. Exausta. Cuidar da casa e dos irmãos não é fácil. Eu ofereci meus préstimos a ela. Disse que sabia cozinhar, lavar, passar, fazer cafuné, dirigir... Ela, porém, negou minha ajuda. Mulher independente, sabe como é...
"-Querido, precisamos conversar."
Claro, meu bem! O que não faço por você? Até paro de falar, só pra ficar te olhando...
"-Querido, não dá mais. Infelizmente, não dá mais. Adeus"

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(Essa linha representa meu silêncio.)

Já levou uma surra depois de comer duas panelas de buchada de bode? Ou já te escaupelaram e, seguidamente, te lavaram em uma caixa d'água com sal grosso?
Fico mudo, estático. Já não bastasse tudo que enfrentei na porra deste dia, agora, a única que era meu refúgio, me dá um pé na bunda sem motivo.
"-Tudo bem. Se você quer assim, que seja."
Rumo à parada de ônibus. Subo no primeiro que passou. Ligo meu MP3 Player e escuto aquela que um dia foi a 'nossa' música.
"-Deus, você realmente não gosta de mim."
Atravesso o ônibus, pago passagem inteira (creio que eu deveria pagar passagem pra todo mundo naquele ônibus. Vai que uma 'boa ação' me ajuda a acordar desse pesadelo...).
Vou agora à faculdade. Ah, faculdade! Lá estão meus amigos. Ultimamente, o que seria de mim sem meus colegas jornalistas? Nada! Eles me apóiam... Me dão conselhos... Me pagam cerveja e me dão carona para casa! Ôba!
Vou sonhando com a cervejinha depois da aula. Hoje tem futebol... Hoje é o dia nacional da cevada!
Chego na faculdade duas horas antes do início da aula. Ainda vejo o pôr do sol da sacada, coisa mais linda que se têm notícia ali. E fico imaginando aquele momento, abraçadinho com uma menina dos cabelos de fogo...
"-Não vou chorar. Homem não chora. Preciso de um computador!"
Desço e corro aos computadores livres. Preciso escrever. Fico sentado por uma hora, sem conseguir escrever nada. Apenas olho a tela tubular negra, como se conversasse comigo.
"-Que tens, rapaz? Dedilha minhas teclas, escreves tua dor. "
Não dava. Saio de lá, em busca de algo que não sei o que é.
"- Vou dar em cima da primeira mulher que me aparecer!"
Então vem, em minha direção, a freirinha lá da sala...
"-Nããããããõoooooo!!!"
Corro para a sala de aula. Lá estarei longe destas perseguições.
Já está escuro. A noite toma conta dos corredores e do meu coração amargurado. Não consigo esperar pelo fim (início?) da aula. Vou para casa.
(...)
Deito e ainda vejo o final do jogo de futebol... O Brasil ganhou... Que maravilha... Ao menos, uma boa notícia. E amanhã, amanhã será um novo dia.

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...

Sabe aqueles dias em que você acorda e diz: "Hoje vou limpar a merda."?
Pois é...

4 comentários:

Luiza Matos disse...

Não sei como tu conseeegui ser engraçado nesse texto.
Tudo tem um lado bom.E seja o que Deus quiser..
Se esticou, hein!
Tratou um fato qse comum de forma bem especial. Gostei.

Janaína Bandeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Janaína Bandeira disse...

Caramba, Levi. Comecei o texto quase chorando, mas não pude deixar de rir depois. Você passa de um estado a outro repentinamente. Muuuuuuuuuuuuito bom!!!! Mesmo!!! Bju!!!

Camila Almeida disse...

Essa é uma das que mais gosto daqui!
Adoro as coisas que vc escreve cara.. muito bom ;D